segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Saudades de um cara 14

Dia 21 de março recebi um e-mail da Viviane, que, entre outras coisas, continha este parágrafo:

vez ou outra eu leio o issoqueeuefalei...... acho que vc podia escrever um texto pra mim tb! :) (carinha de por favor...hahahaha) Mas é que eu tenho uma técnica...quando me sinto sozinha ou to com muita saudade eu leio as biografias que o pessoal escreveu pra mim e até choro ou começo a rir de tanta coisa boa...e me faz bem lembrar...só que eu num tenho uma sua!vou começar a te cobrar hein!

Desde então, eu me planejo para escrever um pouco sobre ela. É muita responsabilidade falar de uma pessoa querida e que é terremoto de sentimentos. Tive o receio de ela não gostar de alguma parte e o tiro sair pela culatra. Resolvi arriscar, com a melhor das boas intenções, como uma pequena homenagem a uma das únicas grandes amigas que nunca mais vi depois da formatura — por enquanto. Para você, Vivi:

Viviane de Carvalho


Ela é loira, o cabelo lisinho, os olhos são de um verde bem chamativo e o quadril foi desenhado com um Q maiúsculo. No entanto a principal característica da Viviane de Carvalho não é física, é sentimental. A Vivi é a pessoa mais emotiva do mundo, daquelas que expressa os sentimentos com naturalidade e sinceridade a todo momento. Principalmente quando a sensação é de saudade.

Aos eleitos amigos de verdade, a Vivi dedica um carinho especial, quase maternal. Talvez o cuidado advenha da desmedida diferença de idade entre ela e a turma, o que sempre a colocou no contexto social como uma figura querida, respeitada e admirada.

Viviane é uma mulher inteligente. Mas, por via das dúvidas, preparada. Não foram raros os momentos em que seus colegas de faculdade preparavam-se para ir às copiadoras adquirir material para as provas de História em dias de véspera e a ouviram dizer-se insegura por ter lido os textos apenas quatro vezes cada. No final, claro, notas e coeficiente estratosféricos. A dona do caderno mais procurado do ensino superior brasileiro.

De todos os dons dela, a escrita pode não ser o mais nobre. A não ser que a referência seja à quantidade. Ela escreve e-mails gigantescos, informativos, analíticos, interpretativos e saudosos, com lembranças de cenas memoráveis, planos de reencontros e muitas palavras digitadas sem espaço, uma atropelando a outra, num turbilhão de emoções.

Outro ponto que nunca passa batido: a origem. O interior está na cara, no jeito, no sorrisão e, como não poderia deixar de ser, no sotaque da Vivi. O R paulista do Sul de Minas compõe a personagem da típica mocinha da cidade pequena que ganhou o mundo. Os trejeitos de quietinha a acompanharam por muito tempo, até que as companheiras de universidade a apresentaram ao mundo dos efeitos e das delícias do álcool na balada.

A mulher que chegou quietinha, saiu chorando de saudades antecipadas. Deixou em quem conviveu com ela a certeza de que a amizade do grupo é eterna, real e muito forte. Tornou-se o símbolo de uma geração de pessoas que se amam.




Quer um também? Fale-me e eu escrevo. E agora temos tags, dá pra acompanhar toda a série Saudades.

domingo, 30 de agosto de 2009

O dia em que eu fui um Gavião - Imagens

Pode não parecer, mas eu estava na arquibancada, bem ao centro. Dia para guardar pra sempre na memória.




Imagens registradas a partir da torcida do Flamengo.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O dia em que eu fui um Gavião

Parte 1 – A saga

A história começa no início da noite de sábado, quando tomei o ônibus. Talvez poucas pessoas tenham realizado o sonho de ver o time do coração jogar pela primeira vez nas mesmas circunstâncias que eu: em outro estado, sozinho no estádio, em viagem com a torcida adversária.

Depois de uma noite e manhã de bagunça e cerveja no ônibus — que quebrou algumas vezes, claro — chegamos à cidade. Já domingo, a primeira parada é a sede do clube, do clube deles. Salas de troféus, loja oficial, campos de treinamento e eu contando os minutos para ter acesso à minha turma, para, enfim, me sentir em casa.

No caminho para o estádio, pego o ingresso. O meu é diferente do de todo mundo, é de cadeira. Eles ficam na arquibancada. Recebo as últimas orientações, marcamos o ponto de encontro depois do jogo e me despeço. Caminho entre a multidão vestida com o uniforme do oponente, enquanto procuro a minha galera. Falta mais de uma hora para o jogo.

Dou a volta pelo lado de fora do estádio. É muito grande, deve ser mesmo o maior do mundo. A certa altura ouço o barulho vindo do interior do gigante de concreto: “Timãããão ê ô. Timãããão ê ô”. Um arrepio inexplicável me desce pela espinha. Eu estava perto, a hora se aproximava.

Chego à entrada, mostro meu ingresso e então sou informado pelo pessoal da revista que os visitantes ficam na arquibancada, não na cadeira. O mundo para, começo a tremer, minha mente é tomada por pensamentos negativos. A mocinha da revista diz que vai me ajudar, me leva a um policial militar e expõe minha situação — parece que ela foi com a minha cara. O PM mira o ingresso, me fuzila com os olhos e balança a cabeça. “Já era”, sentencia, acentuando o sotaque carioca. Pro Corinthians tudo tem mesmo que ser mais difícil.

Caminho desolado tentando pensar em alguma coisa. Meu telefone toca e é o organizador da excursão, ligando de dentro do estádio: “Os Corinthianos estão na arquibancada. Volte à entrada, um cara vai te esperar lá e trocar seu ingresso”.

Lá vou eu, refaço todo o caminho e aguardo o tal cara, que ele até chegou a dizer quem era, mas não deu para ouvir direito. Espero, espero, espero, ligo para o organizador, ouço a mensagem de telefone desligado. Desisto, o rapaz não vem. Ainda me restava algum dinheiro, o suficiente para comprar outro ingresso. Procuro a bilheteria.

Conto a história à moça que vende ingressos. Ela me assegura: é “tranquilo” entrar com o bilhete que tenho. Volto ao portão de entrada da minha torcida e a esta altura são uma volta e meia no estádio, estou ofegante e suado. Passo pela revista e, como quem não quer nada, coloco o cartão na máquina, que trava. O homem que controla a catraca faz cara de assustado e eu também. Ele pega o ingresso, confere e me informa que estou no setor errado.

Narro ao sujeito minha saga. Lembro a ele o que me dissera a moça da bilheteria e me reforço com os argumentos de que estou sozinho na cidade e não tenho mais dinheiro. Ele me pede para esperar e chama o fiscal do estádio. O fiscal vem, confere o ingresso e joga uma bigorna em cima das minhas esperanças. Com aquele cartão não tinha como entrar naquele setor e ponto final.

Vou de novo à bilheteria. Minhas pernas já não aguentam mais andar, começam a querer parar. Compro o novo ingresso, pago R$ 30 e ainda consigo vender o outro por R$ 10, metade do custo original para o setor. Força nas pernas que o caminho de volta à entrada da arquibancada é longo.

De novo a revista, a PM, a catraca. Mas agora com final feliz. São Jorge estava do meu lado! Subo a passos lentos a rampa do Maracanã e avisto e a Fiel.

Parte 2 – A Fiel

A espera valeu a pena. Foram 23 anos, dois meses e 25 dias do mais absoluto Corinthianismo à distância. Adentro o estádio ao som de um grito de torcida e já me infiltro na mística Gaviões da Fiel. A partir daí tiro forças sabe-se lá de onde para permanecer em pé durante dois tempos de 45 minutos apoiando o Coringão.

Quando os jogadores subiram ao campo, vi que a andança toda não importava mais. Eu estava diante do Felipe, do Chicão e do William, Edu, Dentinho, Mano Menezes. São figuras de muito prestígio para mim, heróis pessoais, autores de muitas alegrias.

Eu precisava tirar a limpo duas coisas. A primeira era entender, sentindo, o que é a Fiel. Já posso afiançar: é mesmo a torcida que não para, que canta para o Timão ganhar. O bando de loucos, que nunca abandona. Uma dividida ganha, ataque perdido ou gol sofrido, nada altera a força e o tom dos brados de incentivo aos que trajam o manto alvinegro na batalha das quatro linhas. Por um dia eu fui um Gavião.

É emocionante ver de perto os mastros das bandeiras tremulando, tinha uma em homenagem ao Marcelinho, outra ao Neto e mais uma do Senna. Como criança, aproveitei cada instante. Foi lindo ver a Gaviões, a Estopim e a Pavilhão 9 cantando parabéns à Camisa 12 por mais um ano de vida e, todas juntas, entoando os gritos de guerra da aniversariante. Fantástico olhar para cima e acompanhar a lenta ascensão das bexigas brancas e negras levantando faixas rumo ao firmamento.

Depois de constatada a energia e a vibração únicas vindas da parte paulista do estádio, a segunda coisa a entender era a torcida adversária. Confirmei outra suspeita: a escassez de conquistas importantes do futebol carioca é escondida atrás de atos de irreverência. O “estadual mais charmoso do Brasil” oculta um nível técnico decadente. A torcida se engana, com atos como, ao invés de criticar a incompetência da diretoria por não conseguir efetuar uma determinada contratação de peso, preferir tentar ridicularizar um atleta que jamais desonrou o clube — pelo contrário, sempre o enaltece. Para mim, foi um tiro errado. O futebol do Rio é, hoje, um fenômeno falso.

A partida acaba e a dor nas pernas reaparece com tudo. Permaneço por um tempo a contemplar a garra do batalhão preto e branco na arquibancada, que continua a explanar ininterruptamente o amor pelo Time do Povo. Quando os portões são reabertos, saio tranquilo, com o sonho realizado. A Fiel fica, com a mesma postura de apoio incondicional demonstrada há quase três horas, quando os atletas sequer haviam subido ao campo. Eu levo comigo um pouco desta energia.

Ah, o resultado foi um a zero para o Flamengo. Mas, sei lá, acho que ninguém saiu mais vitorioso do que eu.


Perdoem-me, flamenguistas. Foi escrito muito mais com o coração que com a razão.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Por Ulisses Vasconcellos

Matéria publicada no jornal Tribuna do Cricaré de sábado, 1º de agosto:


Suspeito detido em Nestor Gomes com cocaína e crack

São Mateus – Após mais de seis meses de investigações, a equipe do Destacamento da Polícia Militar do Distrito de Nestor Gomes prendeu ontem um traficante. A informação é do sargento Matheus, responsável pela operação de prisão de Sérgio Nogueira da Silva, conhecido como Moicano. Na casa do suspeito a PM encontrou crack, cocaína, um revólver 38 e aparelhos eletrônicos sem comprovação de origem.

Foram recolhidas 59 pedras menores de crack e uma grande ainda não subdividida, além de 36 papelotes de cocaína. Junto à arma estavam 14 balas. A polícia também apreendeu R$ 277, um notebook, dois celulares e um aparelho de DVD. Quando os policiais chegaram, Sérgio estava dormindo em casa, na manhã de ontem. “Chegamos mais cedo e às 6h10 anunciamos a operação”, lembrou o sargento, referindo-se ao horário em que a Justiça permite a execução de mandados de busca e apreensão. Ainda de acordo com Matheus, após tomar conhecimento da presença dos militares e ser informado do mandato contra ele, Sérgio não esboçou qualquer reação à detenção.

Preso, o traficante confirmou ser o proprietário da arma e dos entorpecentes, explicando que a droga seria vendida no próprio Distrito de Nestor Gomes. Sérgio disse que comercializa crack e cocaína há três meses. Ele divide a residência com outro rapaz, que, por estar no local, também foi detido. No entanto Sérgio assumiu ser o único dono da droga e eximiu o colega de qualquer culpa.

O rapaz relatou não saber que o companheiro de casa traficava entorpecentes, mas disse que o movimento de pessoas entrando e saindo da residência era grande. Eles moram juntos há mais de um mês. No boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar consta que Moicano já atirou contra um cidadão conhecido Capelão.


Qualquer semelhança é mera coincidência. A arte imita a vida. Ou não.



Poucas atualizações, muitos projetos.