segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Minhas meninas

Essas meninas só me dão orgulho!


Isso que eu falei.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vem chegando o verão

Vem chegando o verão
O calor no coração
Essa magia colorida
Coisas da vida...


Não demora muito agora
Todas de bundinha de fora
Topless na areia
Virando sereia...



Vem chegando o verão. Pela primeira vez conhecerei a estação do Sol no litoral capixaba pelo lado de dentro. É estranho. Antes eu tinha um ano inteiro para me preparar psicológica e financeiramente para só uma semaninha de mar, areia e sensação de lugar sem lei. Agora eu irei pegar um ônibus de R$1,60 e voltar para casa depois do trabalho.


Será que eu vou reclamar do som alto de madrugada? Do lixo que os turistas deixam, sem preocupar se o material é ou não biodegradável? Qual será minha atitude quando um inconseqüente, sem qualquer pudor, urinar defronte minha casa, meu lar doce lar? E se eu me pegar ridicularizando um mineiro na praia?


Será esquisito quando tudo subir de preço de uma hora para a outra. Quando o axé tomar conta de vez do som dos carros e dos bares, os óculos escuros passarem a fazer parte do corpo, todo mundo andar sem camisa, suando, e a praia ser invadida por mocinhas de biquíni.


A verdade mesmo é que eu escrevi isso porque essa semana eu vi um velhinho caminhando, de óculos de grau, sem camisa, de sunga roxa, meia e tênis, e celular estilo flip acoplado na pequena veste. E olha que o verão nem chegou.


Isso que eu falei.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Saudades de um cara 6

Fui convocado a participar, mesmo que à distância, da biografia de mais dois amigos que se despedem de Viçosa nos próximos meses. E assim, meio sem querer, escrevi um Saudades de um cara falando do Pelé e da Ana Paula.



Primeiro dia letivo de 2005. O trote estava minuciosamente arquitetado pelos recém-veteranos. Os calouros seriam designados aleatoriamente com nomes de personalidades nacionais e carregariam a nova identificação enquanto durasse a brincadeira. Até aí nada de mais. A novidade foi um deles, que, a partir de então, passou a ser o Pelé.


Com poucos instantes de confraternização estudantil, um dos tantos carecas chamou a atenção. Era mais comunicativo, receptivo, mais gente boa mesmo. Aceitava todas as brincadeiras e toneladas de tinta, e ainda realizou um duplo twist carpado na rampinha de grama digno de deixar qualquer Daiane dos Santos boquiaberta. E, no mesmo dia, na primeira das Coalouradas, lá estava ele, trocando idéias com meio mundo. Um cara especial. Agradou a todos.


Pelé marcou sua vida universitária pela camaradagem e por ter sido o sultão de um paraíso mágico, o memorável Sítio do Pelé. Foi efêmero, mas inesquecível. O sítio foi o ponto de encontro de toda a galera do curso (quando ainda existia uma galera no curso) por poucas vezes, mas palco de curtições guardadas com o maior carinho do mundo nos arquivos dos melhores momentos em Viçosa. Depois, já no núcleo urbano, vez por outra ainda nos oferecia uma baladinha, muito agradável e de ambiente familiar.


Com poucos dias de carreira acadêmica nosso parceiro se enveredou com uma amiguinha. Não deu outra, pouquíssimo tempo depois ele e a Ana Paula (carinhosamente apelidada de Ana Paula Pelé por veteranos bobalhões) eram unha e carne. Pareciam espelho um do outro — e olha que a dissertação nem abordou aspectos físicos. Super gente fina, quietinha, sempre com um sorriso em anexo a um singelo “oi” por onde cruzasse o caminho qualquer um. Moça para casar — seria, mas, claro, já vai se casar com o próprio Pelé.


O jeitinho de séria dela pode até ter enganado, mas não colou muito tempo. O que ficou mesmo foi a capacidade provada (querida monitora de rádio!) e o jeito simples. Aquele papo gostoso toda hora.


A dupla, ou melhor o casal, nunca foi desses que deixam de fazer as coisas por estar namorando. Muito pelo contrário: eram figuras certas nos encontros no saudoso Eucalipto dos Coalas. Não bebiam, não usavam drogas, às vezes deviam ficar até meio espantados com tamanha insanidade da juventude que os acompanhava. Mas nunca falharam. Sempre foram pessoas em quem se podia confiar. Dois seres diferentes. Mais dois amigos para sentir saudade.


Isso que eu falei.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Editorial

Parei de escrever sobre passado. Redigi um texto com mais de cinco anos de antecedência. Será publicado no primeiro número da Revista Isso que eu falei. Em breve. Amplie a imagem.


Isso que eu falei.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Saudades de um cara 5

Garçom. Substantivo masculino. Empregado que serve à mesa em restaurantes, cafés, etc. Só isso? Acho que o Aurélio nunca tomou uma cachaça com o Japonês.


É noite de quinta-feira. Jovens peregrinam com destino prévia e tradicionalmente traçado. Parte deles pára no meio do caminho enquanto os outros seguem adiante. São dois mundos distintos, mas complementares, e que mais tarde se unificarão. O meio do caminho é um pequeno boteco conhecido por Bar do Fernando, Bar do Roberto ou, simplesmente, Chorinho. E é lá dentro que encontramos mais um célebre personagem das madrugadas universitárias, o chamado Japonês.


O Japonês não é só um garçom, um mero atendente. É mais que isso, é parte do show. Além de se encarregar com maestria do vai-e-vem de copos e garrafas, doses de compostos alcoólicos e porções alimentícias de data de fabricação atemporal, sempre recepciona os clientes com um cativante e encantador sorriso na face rosada, vez por outra acompanhado de um comentário perspicaz sobre qualquer coisa. Um sujeito aparentemente tímido, mas bom de papo.


Não se sabe ao certo como e quando sua alcunha se fixou, nem tampouco em que circunstâncias os laços de amizade com os aventureiros noturnos tanto se estreitaram. Ninguém nunca ao menos se preocupou em diagnosticar se ele possui ou não ascendência oriental. Não é essa a idéia. O certo é que de um cidadão que poderia muito bem passar despercebido, ele se tornou um cara legal. Um ingrediente a mais no revigorante estabelecimento com agradável som popular ao fundo, pessoal esquisito e clima abafado.


À medida que os ponteiros do relógio giravam, a música acabava e a clientela lentamente se esvaía. Quase todos rumo ao fim da via, onde parte da juventude já se concentrava desde antes, mais preocupada em quantidade de pessoas que em qualidade da noite. Até que restavam no Chorinho apenas três ou quatro rapazes – talvez acompanhados de um grupo de donzelas – e um violão, emprestado pelo bar.


A galera se empolgava, embalada por canções nostálgicas e de valor harmônico ligeiramente destoante do som que há pouco imperara pelo pequeno recinto. Com a consolidação da madrugada, o volume rústico dos berros tornava-se certamente inoportuno. De quando em quando um funcionário da casa era designado a exigir silêncio e tentar recolher o instrumento — e vez por outra recolhia. Aí o boa-praça Japonês entrava em cena e concedia uma segunda ou terceira chance, mesmo sem muita expectativa de que sua confiança fosse retribuída. Paciência nipônica.


Já amigo de verdade, o querido Japonês passou a ser parte da turma. O profissional mais procurado para oferecer uma e mais uma dose de aguardente a baixo custo com limão a tiracolo. Se notava no bar apenas um do grupo, solitário, não hesitava em oferecer um dedo de prosa e questionar quanto aos ausentes. E gostou tanto de ser carinhosamente coroado como Japonês que estendeu a honra a cada um de seus designadores. Sem muito esforço conquistou seu lugar no oriente do nosso peito, dentro do coração.


Isso que eu falei.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Saudades de um cara 4

Não é necessário muito tempo para se tornar inesquecível. É preciso tão somente uma ou outra característica que marque. E que agrade. O cidadão poder surgir num salão embaixo da Folha da Mata, em via pública ou numa cozinha. Foi assim com Luiz Cláudio, Plutão e Abreu. O Saudades de um cara de hoje é tipo um saudade de três caras. Três grandes caras.

Por Matheus Espíndola


Não se trata de metrossexualismo, vaidade exacerbada. Não se trata de humanidade e compaixão absolutas. Também não é o caso de gostar muito de caras bobos. É apenas uma justa e inevitável homenagem a mais três ilustres personagens daquele famigerado conto de fadas chamado 2004/2007.


O primeiro chama-se Luiz Cláudio — raro exemplo heterossexual de um cabeleireiro magnífico, exímio transformador da beleza. Só quem necessita de um corte no cabelo sabe o quanto é impossível sair completamente satisfeito de um salão — principalmente de um salão de macho. Mas para ele não havia segredo. Com sua tesoura de lâmina irregular e seu papo agradável, Luiz, como se tivesse uma máquina que fotografasse pensamentos, parecia adivinhar o desejo de seus clientes.


Entre uma tesourada e outra, ele falava basicamente de mulheres e das baladas viçosenses, embora nunca tenha sido flagrado em uma. Vez por outra, passava rapidamente por seu recinto um amigo ou conhecido, só pra animar a conversa masculina na pitoresca sala. Ao final do serviço, mais uma feliz surpresa: o irrisório preço de sua obra-prima: R$ 5 — bagatela que nunca fez questão de acompanhar a inflação. Não que eu fosse um cara vaidoso...


Já Plutão é um ilustre desconhecido, sujeito como tantos outros que, alcoolizado na balada, necessita de um ombro amigo, um refrigerante, um vômito para se reerguer. E foi exatamente assim que se resumiu sua breve participação em nossa história.


Ele apareceu completamente embriagado, numa noite qualquer, no Bar do Leão – onde os jovens bebem até cair, em plena rua, sem festa, sem nada para comemorar. Embora seu diálogo fosse ininteligível, a comunicação foi eficiente. Plutão mal conseguia se equilibrar, mas recebeu carinho e guaraná de companheiros dos quais jamais se lembrará. “Está bem agora, Plutão?” Ele respondeu com um vômito espetacular. Um atalho para que, instantes depois, voltasse para a realidade. Foi bom tê-lo ajudado. Não que fôssemos tão solidários assim...


Por fim, Abreu. Festa na Casa da Vovó, e, como de costume, tudo totalmente anormal. Uma gargalhada escandalosa, daquelas bem debochadas, ressoa na cozinha da esbórnia. Lembrava um antigo personagem de propaganda de posto de gasolina que, após ser atendido, zombava do frentista: “Põe na conta do Abreu. Se ele não pagar, nem eu!”. Dito isso, ele arrancava e ia embora, regurgitando-se em gargalhadas. A manifestação debochada, do nosso Abreu, foi um ingrediente para que a balada ficasse ainda mais engraçada. No entanto, ele acabou sendo esquecido.


Dias depois, festa no Eucalipto. Como já era de praxe, o comportamento dos presentes era vexatório. No meio de toda a bagunça, ouve-se, novamente da cozinha – onde se concentram os bebuns –, aquela mesma gargalhada. Alguém diagnosticou: “É o Abreu!”. Dessa vez ele foi abordado, explorado, e, para a nossa alegria, reproduziu as piadas do motorista gozador da propaganda do Posto Ipiranga: “Deus lhe pague, porque eu to duro! Háááá há há!”. Dizem que o Abreu, pouco tempo depois, foi embora de Viçosa e deu um calote na república do Fumaça. Ele era de fato muito bobo. Na verdade, a gente gostava mesmo desse tipo de cara.


Isso que eu falei.