segunda-feira, 29 de abril de 2013

Sem moderação


Recentemente adicionei mais uma experiência inédita ao livro da minha vida: presenciar um assalto, de perto. Bem perto, aliás. Após escolher cuidadosamente das prateleiras do supermercado potes de palmito e azeitona para degustar em casa nas quartas-feiras de futebol, eu aguardava pacientemente minha vez de pagar as compras. À minha frente, duas mulheres passavam seus produtos no caixa, eu seria o próximo. Eis que entram dois rapazes aos berros anunciando um assalto e na mão de um deles o que meu pouco conhecimento policial identificou como sendo um revólver 38. Pelos tamanhos e portes dos caras, eram menores.

A situação é meio inquietante, não tem como não ser. O sujeitinho com a arma, um pequeno jovem de boné, gritava que daria “tiros na cara de todo mundo”. Eu sabia que era um blefe, estava explícito, mas não custava nada eu ficar quieto. Ele abriu a gaveta do caixa e encheu a mão, embora depois eu ficasse sabendo que a soma beirava os R$ 30 – eram só notas pequenas. Depois, o assaltante inexperiente rumou para o setor de bebidas, onde se apossou de duas garrafas de Big Apple, enquanto o comparsa, este de capacete na cabeça, tomava conta do caixa e dos clientes. Uma das mulheres que pagava a conta quando eles chegaram respirava ofegantemente – pensei até que chorava – e o ladrão com capacete a tranquilizava, indicando que não haveria maiores danos aos clientes.

Quando as coisas se acalmavam, apareceu um terceiro meliante, também com traços jovens, que deveria estar esperando à porta. Entrou e ordenou à mulher que se desesperava que o entregasse o celular. Eu, a um metro dela, previ que o meu seguiria o mesmo caminho e involuntariamente pus a mão no bolso para entregar o aparelho assim que ele gentilmente me solicitasse. Mas ele olhou para mim e não disse nada; eu tirei a mão do bolso e olhei para o lado, com total cara de desentendido. Não pediu, não seria eu que ofereceria.

Só que ele se virou para a outra mulher e gritou pela aliança dela, que atendeu prontamente. Fiquei com dó, poderia gerar um problema conjugal desnecessário. Aí eu tive certeza de que eu seria o próximo saqueado. Eu, com óculos escuros na cabeça, cordão e pulseira de prata, celular e carteira nos bolsos. O assaltante me fitou e aí que eu me virei mesmo para o fundo do supermercado com olhar vazio, como se ainda não tivesse percebido o que se passava. O meliante esboçou um passo em minha direção, mas talvez tenha me achado tão sonso que resolveu me deixar pra lá. Resultado: todos os pertences intactos comigo.

O mais nervosinho, dono do revólver, ainda pegou dois uísques, eles saíram correndo e entraram em um carro que os aguardava à porta. Sumiram no mundo. Um absurdo. Como eu disse, eram menores. Com garrafas de bebida alcóolica e um carro. É revoltante. A não ser, claro, que um deles seja o motorista da rodada e esperem o último da turma fazer 18 anos para abrirem as garrafas.