A primeira vez em que ela o viu foi em uma daquelas ladeiras estreitas, no início de noite de sexta-feira de Carnaval. Foi rápido, o caminho deles se cruzou, mas ele nem a notou, estava com alguns amigos, abraçados, rindo por algum caso bobo. Ele chamou a atenção dela, que diminuiu o ritmo do passo, parou a descida e o acompanhou com os olhos até que ele se perdesse em meio à multidão morro acima. Coisa de instantes. E ela, que tinha ido pela primeira a vez a Diamantina para se divertir com as amigas, sentiu uma sensação diferente e, pode-se dizer, bastante inesperada.
Já há algum tempo ela não saía muito de casa, tinha tido problemas no relacionamento anterior e o trabalho e o a faculdade ultimamente a tomavam todo o tempo. Até que decidiu acompanhar as amigas na viagem até a famosa cidade histórica pro Carnaval – faria bem distrair um pouco. Jamais esperou encontrar alguém especial.
Tudo muito divertido, uma infinidade de novos amigos, brincadeiras e Berolas do Gilmar. Eis que, na madrugada do sábado, quando o Barracão já comandava o som da Bartucada na Praça do Mercado e cantava “Eu quero esse amor”, ela o viu novamente. Era ele, não teve dúvidas. Resolveu chegar mais perto, como quem não quer nada, para ver como ele era de verdade e, quem sabe, ser percebida. Mas a ideia não deu certo. Tinha gente demais entre eles e, minutos depois, quando ela chegou aonde ele estava, o rapaz já tinha sumido. Meio frustrada, achou que estava ficando era louca.
Ela relevou, não podia estar gostando de alguém que nem conhecia. Ainda mais dadas as circunstâncias. Resolveu seguir os conselhos das amigas, desencanar e curtir o Carnaval. E foi o que ela fez. Mas só até a tarde de domingo, quando, no auge do Bar do Titi, avistou outra vez o tal moço. Tomou um susto, dessa vez eles estavam muito perto um do outro. Os óculos escuros não enganavam, era o cara que há dois dias frequentava os pensamentos dela. Talvez fosse a hora certa de rolar alguma coisa. Talvez se ele não estivesse tão embriagado. Mal conseguindo caminhar, ele ficou pouco tempo e partiu, ajudado por um amigo. Ela ficou, sem saber o que sentir.
Na segunda-feira, outra vez os caminhos deles se cruzaram, no samba na Baiúca. E dessa vez ele estava sóbrio! Mas acompanhado. Ela sentiu um calafrio quando o viu com uma garota (na verdade, nem soube se eles se beijaram, preferiu trocar sua rota antes). Já estava intrigada, os encontros – ou desencontros – estavam atrapalhando seu Carnaval.
Já era noite de terça e os tambores da Bat-Caverna ecoavam por toda a terra de JK. Ela foi discretamente avisada pelas amigas que um rapaz a observava, a alguns metros. Quando se virou, não acreditou: era ele. Estava com os amigos, brincavam como crianças entre si e cantavam uma música aparentemente sem sentido. Ele a olhou algumas vezes. Ela também. Ele sorriu. E ela correspondeu. Ele caminhou em direção a ela tentando vencer a multidão. Ela se encheu de expectativas. A música cessou, luzes se apagaram e o grande holofote redondo iluminou o alto do casarão.
Ela olhou a luz e, quando tentou mirar o rapaz, não mais o viu. Ele não veio. Talvez ela tenha entendido errado, o sorriso nem deveria ter sido para ela. O Batman apareceu lá no alto, cantou uma canção de amor e desceu ao palco atado aos cabos da tirolesa, embalado pelo tema do seriado tocado a todo vapor pela banda. Durante a descida do Morcego, ele rapidamente olhou para ela e ela teve a impressão de que ele cantou uma música inteira sem tirar os olhos dela. Tinha mesmo ficado louca.
A moça e o rapaz nunca mais se viram. Quem sabe o ônibus para a cidade dele saiu na terça-feira, logo após eles terem se visto e ele teve, a contragosto, que ir. Quem sabe o destino preferiu separá-los a dar a eles só uma noite juntos. Na Quarta-feira de Cinzas ela voltou pra casa, cansada, exaustada, feliz e com a sensação de que o Carnaval tinha sido inesquecível. E com a sensação de que se apaixonara pelo Batman. Não o vocalista da Bat-Caverna, que desceu e fez um show sensacional. Mas o verdadeiro Wayne, que poderia estar lá e ter tido que deixar a terra dos diamantes às pressas rumo a Gotham City para atender algum chamado urgente disparado via holofote pelo mordomo Alfred. Sei lá, assim ficava mais fácil aceitar as coisas.
Já há algum tempo ela não saía muito de casa, tinha tido problemas no relacionamento anterior e o trabalho e o a faculdade ultimamente a tomavam todo o tempo. Até que decidiu acompanhar as amigas na viagem até a famosa cidade histórica pro Carnaval – faria bem distrair um pouco. Jamais esperou encontrar alguém especial.
Tudo muito divertido, uma infinidade de novos amigos, brincadeiras e Berolas do Gilmar. Eis que, na madrugada do sábado, quando o Barracão já comandava o som da Bartucada na Praça do Mercado e cantava “Eu quero esse amor”, ela o viu novamente. Era ele, não teve dúvidas. Resolveu chegar mais perto, como quem não quer nada, para ver como ele era de verdade e, quem sabe, ser percebida. Mas a ideia não deu certo. Tinha gente demais entre eles e, minutos depois, quando ela chegou aonde ele estava, o rapaz já tinha sumido. Meio frustrada, achou que estava ficando era louca.
Ela relevou, não podia estar gostando de alguém que nem conhecia. Ainda mais dadas as circunstâncias. Resolveu seguir os conselhos das amigas, desencanar e curtir o Carnaval. E foi o que ela fez. Mas só até a tarde de domingo, quando, no auge do Bar do Titi, avistou outra vez o tal moço. Tomou um susto, dessa vez eles estavam muito perto um do outro. Os óculos escuros não enganavam, era o cara que há dois dias frequentava os pensamentos dela. Talvez fosse a hora certa de rolar alguma coisa. Talvez se ele não estivesse tão embriagado. Mal conseguindo caminhar, ele ficou pouco tempo e partiu, ajudado por um amigo. Ela ficou, sem saber o que sentir.
Na segunda-feira, outra vez os caminhos deles se cruzaram, no samba na Baiúca. E dessa vez ele estava sóbrio! Mas acompanhado. Ela sentiu um calafrio quando o viu com uma garota (na verdade, nem soube se eles se beijaram, preferiu trocar sua rota antes). Já estava intrigada, os encontros – ou desencontros – estavam atrapalhando seu Carnaval.
Já era noite de terça e os tambores da Bat-Caverna ecoavam por toda a terra de JK. Ela foi discretamente avisada pelas amigas que um rapaz a observava, a alguns metros. Quando se virou, não acreditou: era ele. Estava com os amigos, brincavam como crianças entre si e cantavam uma música aparentemente sem sentido. Ele a olhou algumas vezes. Ela também. Ele sorriu. E ela correspondeu. Ele caminhou em direção a ela tentando vencer a multidão. Ela se encheu de expectativas. A música cessou, luzes se apagaram e o grande holofote redondo iluminou o alto do casarão.
Ela olhou a luz e, quando tentou mirar o rapaz, não mais o viu. Ele não veio. Talvez ela tenha entendido errado, o sorriso nem deveria ter sido para ela. O Batman apareceu lá no alto, cantou uma canção de amor e desceu ao palco atado aos cabos da tirolesa, embalado pelo tema do seriado tocado a todo vapor pela banda. Durante a descida do Morcego, ele rapidamente olhou para ela e ela teve a impressão de que ele cantou uma música inteira sem tirar os olhos dela. Tinha mesmo ficado louca.
A moça e o rapaz nunca mais se viram. Quem sabe o ônibus para a cidade dele saiu na terça-feira, logo após eles terem se visto e ele teve, a contragosto, que ir. Quem sabe o destino preferiu separá-los a dar a eles só uma noite juntos. Na Quarta-feira de Cinzas ela voltou pra casa, cansada, exaustada, feliz e com a sensação de que o Carnaval tinha sido inesquecível. E com a sensação de que se apaixonara pelo Batman. Não o vocalista da Bat-Caverna, que desceu e fez um show sensacional. Mas o verdadeiro Wayne, que poderia estar lá e ter tido que deixar a terra dos diamantes às pressas rumo a Gotham City para atender algum chamado urgente disparado via holofote pelo mordomo Alfred. Sei lá, assim ficava mais fácil aceitar as coisas.