Filhos e filhas,
Que o Pai esteja convosco.
A situação em que me encontro chegou a um ponto em que não posso mais me omitir. Sinto-me obrigado a falar diretamente convosco, filhos e filhas, e o meio que penso ser mais eficiente é me manifestar por escrito, dirigindo-me a todos indiscriminadamente. Escrevo para milhões de interlocutores, faz-se necessário. E confesso estar constrangido. Oprimido, acuado.
De antemão, revelo que preferiria não ter que fazer isso. Afirmo ter total ciência de que nossa cordial relação pode ser afetada, arranhada, mas não tenho escolhas. É isso ou ver as coisas piorarem. A decisão foi dolorosamente bem pensada.
Acontece que as recentes variações tão bruscas de temperatura são efeitos de massas de ar, de densidades diferentes, associadas a mudanças nos níveis de umidade, que resultam na instabilidade do clima. E tem muito mais coisa envolvida nesse esquenta e esfria que nem eu entendo, não sou meteorologista. Eu mesmo vivo gripado.
Acreditem, meus pequenos, eu tenho senso de humor. Vivo às gargalhadas, faço graça de tudo.
Mas já não dá mais, está insuportável. Tenho sofrido, andado cabisbaixo. Aonde eu vou, ouço enxurradas de piadinhas maldosas sobre mim. É um bullying infinito. Tudo sou eu, tudo eu. Eu faço chover só de sacanagem para avacalhar o fim de semana da galera, eu não sei mexer no controle do ar condicionado, eu devo viver dançando a Dança da Manivela e cantando “aqui tá quente, tá frio, muito quente, tá frio”. Outro dia me chamaram de bipolar. Cadê o respeito? Não tenho nada a ver com isso. Sério, nada! Minha função aqui em cima é outra. E nem existe essa tal máquina de controlar o tempo.
Portanto, filhos, peço-vos de coração para pegarem mais leve comigo. Já tenho idade avançada e não me faz bem ficar triste assim. O verão vem aí e as coisas vão voltar ao normal. Combinado?
Agradeço a atenção. Que o bom Deus vos abençoe.
Pedro