Eu devia ter uns seis anos. O circo chegou à cidade e foi montado perto da minha casa. Eu fui às sessões todos os dias. Se pudesse, teria ido mais de uma vez por dia. Tudo me encantava: o mágico, os trapezistas, o globo das motos. E, depois de conhecer e me fascinar por um universo completamente novo, decidi: pela primeira vez na vida, respondi, com firmeza, a quem me perguntava o que eu queria ser quando crescesse: queria ser palhaço.
Não poderia existir profissão melhor: viver às gargalhadas, rodeado de bichos diferentes, viajar sempre e ainda assistir ao espetáculo todas as noites. Os adultos riam da ingenuidade da minha convicção, nem imaginavam a seriedade da coisa. Mas eu havia definido, seria palhaço! Quando o circo se foi, ainda mantive a decisão por um tempo. Só que o sonho do picadeiro foi aos poucos sendo deixado de lado, à medida que eu crescia e percebia que a carreira não era tão viável como eu pensava ser.
Depois, vieram as outras ideias pro futuro, mais racionais. A veterinária não daria certo, fatalmente passaria pela biologia e eu me perderia por ali. O mundo da informática me interessava, mas traria de brinde minhas eternas piores inimigas: a física e a matemática. Com a química eu até me dava bem, mas não ao ponto de fazer disso meu ganha-pão.
Gostava mesmo das palavras. E, assim, meio de paraquedas, caí no universo do jornalismo. É, mas as forças do destino – e do mercado – trataram de me afastar de lá, pelo menos por um tempo.
Eu, o cara das letras, então me vi imerso em um mundo de números e cifras. Quando mais novo, pensei em tantas carreiras para mim e acabei por não seguir nenhuma delas. Pensei em todas de novo numa terça-feira dessas de manhã enquanto abotoava a camisa social e calçava os sapatos pra ir trabalhar. Poderiam ser aqueles sapatos de palhaço.