quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O fim do mundo


Beirava as oito da manhã. O Sol quente castigava as costas desprotegidas. Poderia ser a hora ideal para um meteoro perdido acertar em cheio a Terra e acabar com essa humanidade vazia sem deixar qualquer vestígio. Mas não foi assim. Era início de um sábado e um cara com nome de legume (ou fruta, nunca fui bom de biologia) fazia do microfone um maçarico para incendiar os guerreiros que teimavam em desafiar o próprio corpo rumo ao infinito do prazer carnal do contato dos lábios regado a álcool e dança.

A equipe se concentrava o mais próximo possível de um megacarro, com som invejavelmente potente. O artista, lá no alto, defendia que não iria embora nunca mais. Nem ele, nem ninguém. Ao longe, do campo de visão próximo da fonte inesgotável das bebidas – uma imensidão contínua de barracas open bar – se via bem o tal Tomate, além de gente, gente, gente (gente boa!) e uma chuva contínua de bebidas alcoólicas lançadas dos copos ao alto, que imediatamente se precipitava sobre as cabeças daqueles foliões escolhidos pelos deuses para estar juntos em um possível e iminente fim do mundo.

Diziam por aí que não seria possível vencer toda a maratona da programação com o corpo limpo de substâncias alucinógenas estranhas a ele. É que as violas das primeiras apresentações irradiaram muita energia positiva. Catalisada, essa força se transformou em molas propulsoras nas pernas dos guerreiros. Ela foi convertida em saltos nos ritmos das mais diversas coreografias de axé. Juntos, estavam amigos que vieram de todos os lados. De Minas Gerais e da região. E a galera de São Paulo chegou mais então. Distrito Federal compareceu. E o cerrado foi o sertão da Brasil e de repente se viu transformar na Bahia.

Nesse tempo, o meteoro a caminho (que nem de perto era da paixão, como diria o amigo Luan) cruzava as galáxias e se aproximava da Terra em velocidade recorde, para estourar de vez esse planetinha. Só que tinha muita gente do bem junta. E outra festa inteira pra acontecer no dia seguinte, que se tornaria ainda mais inesquecível para toda aquela recém-formada equipe de sucesso. Por isso, os deuses, de última hora, decidiram por um desvio mínimo na rota do meteoro e ele se chocou contra uma constelação qualquer, fazendo um monte de estrelas virarem farinha.

A festa continuou. A vida continuou. No hotel, na piscina, no Caldas Country Show. Para falar a verdade, se o mundo tivesse acabado naquela manhã quente de sábado, os paladinos de chapéu se dariam por satisfeitos. É sempre bom terminar no auge.





Escrito às 12h17 de um sábado alucinante, ainda sem dormir e sob forte efeito de álcool. Um relato sobre a lembrança viva de uma cena inesquecível de chuva de bebidas, que eu contemplava sozinho enquanto pedia mais um copo de vodca durante o eletrizante show do Tomate no trio elétrico (depois das apresentações de Israel e Rodolfo, Luan Santana, Chitãozinho e Xororó, Fernando e Sorocaba e Gusttavo Lima no palco principal).


17 de novembro de 2012 – Caldas Novas – Goiás