quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Por Ulisses Vasconcellos

Em uma das minhas mais recentes empreitadas jornalísticas, dia 21 de novembro, fui ao show do Chiclete com Banana. A intenção, claro, era dialogar com os músicos para produzir uma matéria. A organização do evento combinou a entrevista e, na hora H, furou. Além disso, choveu literalmente o dia inteiro — um temporal mesmo. Eu dei meu jeito. Segue a cobertura publicada na Tribuna do Cricaré de terça-feira, 25 de novembro.


Chiclete, chuva e banana:
combinação que deu certo


É preciso mais que um temporal para parar um chicleteiro. O público presente ao show do Chiclete com Banana em São Mateus provou que água não dissolve animação — pelo contrário, dá até mais energia. Os milhares de foliões curtiram a apresentação da maior banda de axé brasileira até o último instante, na madrugada contínua ao dia em que foi registrada a maior precipitação do ano.


Quando o Chiclete subiu ao palco, o sábado já se iniciava e a chuva era ininterrupta desde a manhã do dia anterior. Mas foi só Bell Marques aparecer, armado com sua guitarra e sua bandana, e colocar fogo na multidão. Enquanto isso, no alto, a explosão de fogos de artifício coloria o firmamento. O espetáculo foi aberto com o sucesso Eu quero esse amor e o rei dos chicleteiros logo profetizou: “Esta noite não há estrelas no céu. Porque todas elas estão aqui”. A partir daí foi só confiar nos teclados de Wadinho Marques, as percussões de Waltinho Cruz e Deny, a bateria de Rey e o contrabaixo de Lelo que tudo daria certo.


O pessoal dos camarotes, protegidos das águas, resistiu um pouco mais, mas o som contagiante dos baianos acabou reunindo grande parte dos foliões na pista. Formou-se então um único mar de abadás amarelos, cor-de-rosa e alaranjados. No chão, algumas poças se consolidavam, as chapinhas dos cabelos femininos se desfaziam, a roupa sujava. E a alegria e empolgação cresciam na mesma proporção. Coisas dos tais chicleteiros. Representando o Município, o Swing Battifun, do alto do trio elétrico, cuidou para que Bell e sua turma encontrassem o público já aquecido e em ponto de bala para o show inesquecível. São Mateus recebeu visitantes de diversos pontos do País. Bandeiras do Espírito Santo e de outros estados tremularam entre os micareteiros.


Isso que eu falei.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Depoimentos

Imagine uma galera muito massa.

Imagine um churrasco.

Imagine cerveja.

Imagine uma câmera.

Imagine que é despedida.

Imaginou?

Parte 1

Parte 2

Isso que eu falei.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Fator B


Pouca gente sabe, mas o corpo humano tem sua própria bússola. É uma parte do cérebro ainda desconhecida dos cientistas com função única de orientar. Ela não é ativa o tempo inteiro – muito pelo contrário, é estratégica. Para ser acionada precisa de combustível: bastante álcool. Aí as coisas se explicam.

É impressionante, um cidadão embriagado sempre volta para casa inteiro. Não importa a distância, o meio de transporte, a dose ingerida, nada disso. Ele volta, guiado pela misteriosa força que convencionei chamar de Fator B. O bêbado pode perder autonomia sobre seus membros, dicção, senso do ridículo, apetite sexual, mas uma vez com o Fator B acionado o retorno ao lar é certo.

O místico poder garante que, ao final da noite, o encachaçado dormirá na própria cama, custe o que custar. O sexto sentido o sustenta quando as pernas cambaleiam, fixa as mãos no volante e guia o automóvel quando os olhos cerram-se ou crava a coluna vertebral sobre a moto quando o corpo começa a deslizar para um lado. Até consegue carona, se necessário. A rota sempre é impecavelmente lembrada, por mais recente que possa ser a moradia. É como um GPS instalado por dentro.

Uma madrugada dessas eu voltava para casa da Festa da Cidade, alcoolizado, de ônibus. Estava em pé, apertado, sozinho, meio bobo e dialogando com pessoas que nem imagino quem são. De repente um rapaz sentado próximo abre a boca e vomita... e vomita... A multidão (o ônibus estava cheio) mais que depressa passa a zombá-lo. Eu também, mas meu coração benevolente entra em ação.

Com carinho quase materno, oriento o fanfarrão a regurgitar seus alimentos e drinks em local a causar menos estrago – mais longe do corredor, cuidado com os pés dos passageiros, pelo menos fora dos outros bancos. Ele não responde, está desmaiando. O coitado está solitário. A galera já inventa apelidos, aponta o dedo indicador e ri alto. Eu também, mas ainda estou do lado dele. Eis que me vem à mente a questão: “Como é que este embasbacado morto-vivo vai chegar em casa?”

Pergunto a ele se lembra-se onde mora. Ele abre só um olho, põe a língua para fora e resmunga qualquer coisa babando, que interpretei autoritariamente como: “Sei sim, não se preocupe. Estou bem”. Acho que ele está em coma. A esta altura tento insistentemente explicar aos populares que o sujeito não é meu amigo e que nem sequer o conheço. Em vão, agora fiquei sendo o parceiro do derrubado.

O ônibus pára num ponto qualquer. O maluco se levanta repentinamente, respira, olha pela janela e calmamente desce as escadas com toda segurança do mundo. E segue, sozinho, pela rua escura, para o lar doce lar dormir o sono dos justos. O Fator B dele é bom mesmo.

Isso que eu falei

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Reconhecimento

Bom ver as coisas fluindo. Fiquei orgulhoso de ver Os Melhores caras do mundo publicado pelo Jeremias no Informativo Tá na Cara. Depois, o 4-1-3-2, que quase ninguém deve ter entendido nada, bastante elogiado na comunidade do Championship Manager 01/02 e reproduzido no blog do jogo.

Legal.

Isso que eu falei.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

4-1-3-2

Assumo a equipe. A direção espera que o clube obtenha uma posição respeitável no campeonato. Espera o título. Ou, simplesmente, a promoção à divisão de elite. Checagem minuciosa no plantel, olho clínico em busca de valores que mereçam permanecer — só um ou outro. Aos demais, a lista de transferências. Observo as finanças, não era bem o que eu esperava. Segmento os atletas em treinamentos por posição.

É hora de começar a montar o esquadrão. Sem muitos recursos, nomes consagrados esquecidos e desempregados são o primeiro alvo — as promessas vêm em seguida. Talvez um empréstimo valha a pena. Puxo na memória aqueles que outrora deram conta do recado e conquistaram vagas eternas em quaisquer circunstâncias. Em viagem rápida pelos confins europeus, as primeiras peças começam a ser decididas. Grécia, Suécia, Ucrânia, divisões inferiores de Portugal.


Ainda falta alguma coisa. Bielo-Rússia e Bósnia-Herzegovina: celeiro de craques — garantem a linha de frente. Atenção ao limite de estrangeiros. É preciso entender como se encaixam as engrenagens da máquina. Os adversários se reforçam.


Agendar amistosos. Times fortes, que testem minha equipe pra valer. A estratégia precisa ser ajustada. Dois ou três zagueiros? Dois ou três meias? Dois ou três atacantes? De novo analiso o material humano à disposição. Adéquo o time à tática ou a tática ao time? O tempo diz. Começa o campeonato. Tantas horas de jogo se passaram.


Um hat-trick na estréia! Sabia que nele poderia confiar, nunca falhou. Finalização 20 — a chave do sucesso. Ah, e os tais atributos escondidos! Está contente com sua situação no clube, pensa que o técnico é extremamente competente. Acho que vou juntar minha voz à dos que esperam que em breve ele tenha uma oportunidade na seleção principal. A direção está agradada, em questão de tempo deliciar-se-á.


Jogo difícil e decisivo, contra o bicho-papão da temporada. Apreensão, quase tremo. Titulares até poupados na última rodada. Ih, um a zero para eles. Pausa! Penso. Seta maior nos laterais, ação livre no camisa 10, um ponta-de-lança a mais em campo. Rola a bola. Pausa. Rola a bola, pausa. O placar se inverte, gol chorado no finalzinho. Eu grito, saio correndo pelo quarto, quase choro, xingo. Nem percebo o cair das horas. Outro desafio vencido — rumo ao troféu, ao bi, ao tri, ao hexa... Se um combate é perdido, levanta a cabeça que a vida segue. O save também. Madrugada adentro.


Da Terceira Divisão para Tóquio. Libertadores, Champions League, uma de cada vez. Topo da reputação mundial. Quer vir treinar o Brasil? Os anos se passam, no jogo e na vida, e eu continuo na temporada 2001/2002. Os títulos acumulam-se e até as decepções. Uma dica? Na dúvida: mentalidade atacante e passe curto num 4-1-3-2. Comigo sempre deu certo.


Isso que eu falei.