quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Saudades de um cara 7


Hoje um ciclo se encerra e outro está prestes a ser inaugurado. O primeiro dos anos de vida de gente grande passou. A galera está, aos poucos, se encontrando profissionalmente. No fim das contas foi bom. O negócio agora é aprender a conviver e controlar a saudade de tempos que não voltam mais e de pessoas que voltam, mas só de vez em quando. Nada melhor para um período de fim de uma era e início de outra do que falar de amor, esperança e balango. Com vocês, uma homenagem ao casal Luciana e Marcelo Balango.



Por Matheus Espíndola

Era impressionante que ela gostasse, admirasse e elogiasse um bando de babacas que inventavam novas formas de conversar.

Pelo menos, acho que foi assim que ela apareceu. Graduanda em Letras, sua busca, que tinha finalidades acadêmicas, era por jovens que se comunicavam por meio de gírias. O diálogo era na mesa do Restaurante Universitário e, entre uma baboseira e outra que lhe era ensinada, Luciana fazia com que nos sentíssemos especiais, inteligentes, bonitos... e mais: cheirosos, jovens, esbeltos, elegantes, cabelo bonito, barba bonita, cor bonita, e por aí vai... Seu jeito único de bombardear as companhias com elogios levou-nos à conclusão de que sua missão no mundo devia ser mesmo essa: balangar. Algum sábio conferiu-lhe a alcunha: “Luciana Balango”— portanto.

Em meio à laia de fanfarrões, Luciana era a pitada de maturidade. Aliás, sua verdadeira idade até hoje é um mistério. Enquanto os amigos encontravam na esbórnia a melhor maneira de se inserirem na vida social, Luciana Balango levava uma vida pacata, e consagrou-se como uma companhia infalível para todas as horas. Sorriso fácil, palavras doces e, de vez em sempre, o disparo de um balango fulminante. “Como você está bonito hoje!”.
Moça de família, cantora — em francês — do coral. Ela provou que era mulher para casar. Assim, fisgou o grandioso Marcelo e cedeu-lhe o sobrenome: Marcelo Balango — logo. Ainda hoje, naquela terra turbulenta, é possível encontrar um refúgio de serenidade e harmonia. Com um pouco de sorte, encontra-se o casal e desfruta-se de um papo radiante de paz e esperança.

Alguém disse isso uma vez, e acho válido repetir: “Estudar, saber, agir, vencer. A gente tenta praticar os quatro, mas acaba descobrindo que precisa de muito mais pra ser feliz... carinho, atenção, companhia, confiança, apoio, bons conselhos, boas idéias, gargalhadas e diversão.” Assim é Luciana Balango, que enxerga o melhor de cada um e torna a vida muito mais agradável.

É mesmo impressionante! 

Isso que eu falei.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Cenas do cotidiano


Na cozinha do serviço, no horário do lanche:

- Eu sempre durmo cedo.

- Eu não. Tenho insônia, só consigo dormir altas horas da madrugada. Por isso toda noite eu leio até tarde.

- Nossa, que menina culta!

- Amm... Adivinha o que eu leio.

- Capricho?!

- Não. Livrinho de piadas.

- ...


Amigos, se embebedando na casa nova após uma mudança:

- Vem cá, aquele lance da máquina do tempo é possível mesmo?

- Bom, o tempo é um vetor e... Você sabe o que é um vetor?

- Sei! O mosquito Aedes aegipty é o vetor da dengue.

- ...


Isso que eu falei.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A extração


Após tantos anos de espera, chegara a hora de acabar com um dos meus piores inimigos. Depois de tanto me fazer sofrer e imaginá-lo exterminado, meu terceiro molar — o popular dente do siso — deixaria meu corpo. “Já vai tarde”, pensei, malicioso, ao acordar.


Antes de ir ao dentista, fui ao trabalho para resolver uma pequena questão administrativa e me certificar de que era mesmo dia útil e eu não estava trabalhando — se tudo desse errado, me agarraria a esse argumento para não cair em depressão. Sigo para o consultório, pontualmente, às 11 horas.


Lá, aguardo alguns instantes. A demora não me surpreende, já a esperava. A dentista aparece, abre a porta e a vejo ao lado de outra mulher. Ela olha para mim, exterioriza certo espanto. “Eu sei o que é o caso dele. E extrações só são marcadas para as 10h40”, resmunga para a colega. Eu intervenho, me defendo e asseguro que o atendente me disse 11 horas. E ela sai às pressas à caça do irresponsável que atrasaria seu almoço. Comecei mal.


A dentista volta, me convida a entrar. Eu ainda me questiono se é só para justificar que a cirurgia terá que ser remarcada ou para consertar de vez minha arcada dentária. Ela, a contragosto, me entrega o avental e os óculos de proteção. O siso estava com os minutos contados. Ahá!


O primeiro procedimento é a anestesia, para o paciente não sentir dor. Legal. Mas, paradoxalmente, cada fincada de agulha em cada ponto da mucosa da minha boca me faz querer desistir. Penso no lado bom e sigo em frente.


A técnica para extrair o terceiro molar é simples, eu diria até meio pré-histórica. Consiste em enfiar um alicate na boca do coitado do paciente e arrancar o dente na marra — para isso não importa as interjeições de dor que ele exclame e nem o volume do gemido.


Enfim, o dente sai!


Na verdade nem foi tão ruim assim. A dentista me pergunta se pode jogar o dente fora. Eu não autorizo. Pensei em guardá-lo, colocar debaixo do travesseiro para que a Fada do Dente troque-o por algumas moedinhas — estou precisando. Só aí me dou conta de que me mudei recentemente e ainda nem tenho travesseiro. Mas trouxe-o assim mesmo. “Em 20 minutos pára de sangrar”, me garante a odontóloga.


Saio cantarolando, um problema a menos na minha vida. Está certo que ainda preciso extrair outros três desses inimigos íntimos, mas uma grande caminhada começa com o primeiro passo. Pego o ônibus e volto para casa, sempre lembrando de que hoje não precisarei trabalhar.


No caminho, o cenário muda completamente. A anestesia passa e uma dor insuportável toma o lugar onde antes morava o pequeno ossinho que a esta altura está no meu bolso. Parece que o buraco na gengiva quer parir outro dente a qualquer custo e os outros 30 e poucos se acastelam para impedir. Ferrou.


Chego a minha casa. Sento, fecho o olho, me concentro e mentalizo: “Não vou chorar. Não vou chorar. Não vou chorar”. Aí me levanto e vou secar as lágrimas, que já estavam pingando na minha roupa. Pelo menos eu tentei.


Lembro do conselho da dentista. “Se doer, tome um analgésico”. Poucas vezes na minha vida fui tão grato a um comprimidinho. A dor passou. Que sensação horrível — não a desejo a ninguém. Quer dizer, talvez eu não me importaria tanto se fosse em um ou outro aí... O fato é que doeu, com força. E os 20 minutos que a cirurgiã me prometeu para estancar o ferimento duraram mais de 24 horas.


Estou me recuperando. Em breve devo estar pronto para outra. Que venham as próximas três extrações!


Isso que eu falei.