segunda-feira, 16 de julho de 2012

O texto vazio


Era pra ser um texto grande. Os parágrafos deveriam começar com verbos no passado, caminhar a passos lentos até os do presente e terminar com o mais longínquo tempo futuro. Com o recheio de uma gama infinita de adjetivos, que caracterizassem a força positiva de cada momento cuidadosamente descrito. Os parágrafos contariam coisas boas, de se fazer emocionar. Mas não foi assim.

O texto tinha tudo pra ser o mais bonito do mundo. Seria daqueles que dá orgulho a quem escreve e faz quem lê suspirar. Suspirar mais de uma vez e pensar, pensar muito. Daqueles que dá vontade de ler de novo, copiar no papel, de salvar no computador. Que desse vontade de decorar até! Linhas não tão longas, só o suficiente pra dizer absolutamente tudo, com a importância que cada instante merecesse, do primeiro deles ao infinito. Que nada ficasse de fora. É, mas não foi assim.

As palavras, à medida que lidas, apertariam forte o mais gélido dos corações. Sem dúvida, o coração bateria mais rápido. Bateria sim. A sequência de letras, a registrar uma sequência de atos, seria de umedecer as pálpebras mais secas e deixar escapar, no mínimo, uma lágrima dos olhos de quem a lesse. Olhos semiabertos ou recém-fechados. É provável que algumas lágrimas mais. O texto contaria uma história única e, até então, sem fim.

As linhas poderiam se encaixar no desenrolar de algumas vidas.  Mas o texto seria criado de só uma vida para apenas outra, bem específica. De um par de mãos para outro corpo inteiro. E uma alma. De um passado para um futuro.

Só que o texto nunca existiu. Ele não foi escrito. Talvez se tenha esboçado um título ou até uma introdução. O lápis pode ter quebrado a ponta ou a caneta vazado antes do último parágrafo. Nunca existiu, o texto nunca foi escrito. Nem lido. Mas o lugar então reservado a ele na folha de papel permaneceu sempre dele. Vazio.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Dia 5 de julho eu vou acordar corinthiano


Dia 5 de julho de 2012 eu vou acordar corinthiano. Tenho certeza, eu vou acordar corinthiano. Corinthiano como eu acordei em 15 de janeiro de 2000, na manhã seguinte à noite em que o então presidente da Fifa, Joseph Blatter, entregou a taça de campeão mundial nas mãos do eterno capitão Freddy Rincón, que a ergueu para coroar o ápice de uma geração vencedora e firmar o Corinthians no mais alto degrau do futebol internacional.

Dia 5 de julho eu vou acordar corinthiano. Como eu acordei na segunda-feira, 5 de dezembro do último ano, campeão brasileiro depois de uma campanha impecável. Vou acordar corinthiano como eu acordei após os Brasileiros de 2005, 99, 98 e 90. E igualmente corinthiano depois dos campeonatos de 2002 e 93. Corinthiano como eu acordei após as finais das Copas do Brasil de 95, 2002 e 2009 e como as de 2001 e 2008.

Dia 5 de julho eu vou acordar tão corinthiano quanto acordei no dia 3 de dezembro de 2007, algumas horas depois de ver o Gigante tombar contra o Grêmio no Olímpico e ser condenado a ficar apartado das grandes forças do país por uma temporada. Tão corinthiano como quando o modesto colombiano Tolima adiou por mais um ano o sonho da conquista da América. Ou quando o papel de algoz foi encenado pelo Flamengo ou as doídas vezes de River Plate e Palmeiras.

Dia 5 de julho eu vou acordar corinthiano. Como quando vibrei com as embaixadinhas do Edilson, a pintura do Ronaldo na Vila Belmiro, todas as arrancadas do Tévez e os gols de falta do Marcelinho. Posso até não ver visto o jogo, mas afirmo que dia 5 de julho vou acordar tão corinthiano como acordaria em outubro de 77, um dia depois da final do Paulista e do antológico gol do Basílio. Ah, 77! Ou como depois do bicampeonato de 82/83 pela Democracia Corinthiana de Sócrates e Casagrande ou o título do IV Centenário de São Paulo, disputado em 55, com o time de Cláudio e Luizinho. Ou a dolorosa despedida de Rivellino em 74. Corinthiano como acordaria se tivesse sido mais um na invasão do Maracanã em 76.

Dia 5 de julho eu vou acordar corinthiano. Porque o Tite vai estar no comando. Porque sei que, quando precisou, o Paulinho, o Emerson e o Danilo resolveram. Porque o tempo todo sabia que podia confiar no Ralf e no Castán. Porque o Cássio deu conta do recado e tirou o gol do Diego Souza. Porque o Alessandro segurou o Neymar. Porque o Chicão é um líder e o Alex, o Jorge Henrique e o Liédson compõem a alma vencedora do time. Porque o Romarinho tem estrela e ainda vem mais coisa boa desse moleque.

Dia 5 de julho eu vou acordar corinthiano. Porque eu faço parte de uma nação, de 30 milhões de loucos, que conseguiu unir o Brasil contra ela, deixando, mais do que nunca, o país só com duas torcidas. Porque eu torço por um time que dobrou, um a um, todos seus críticos com um futebol compacto e eficiente.

Dia 4 de julho eu vou acordar corinthiano, sem nunca ter precisado ganhar uma Libertadores para isso. Dia 5 de julho, aconteça o que acontecer no dia anterior, eu vou acordar corinthiano como sempre. Talvez só um pouco mais rouco.