Recentemente adicionei mais uma experiência inédita ao livro da minha vida: presenciar um assalto, de perto. Bem perto, aliás. Após escolher cuidadosamente das prateleiras do supermercado potes de palmito e azeitona para degustar em casa nas quartas-feiras de futebol, eu aguardava pacientemente minha vez de pagar as compras. À minha frente, duas mulheres passavam seus produtos no caixa, eu seria o próximo. Eis que entram dois rapazes aos berros anunciando um assalto e na mão de um deles o que meu pouco conhecimento policial identificou como sendo um revólver 38. Pelos tamanhos e portes dos caras, eram menores.
A situação é meio inquietante, não tem como não ser. O sujeitinho com a arma, um pequeno jovem de boné, gritava que daria “tiros na cara de todo mundo”. Eu sabia que era um blefe, estava explícito, mas não custava nada eu ficar quieto. Ele abriu a gaveta do caixa e encheu a mão, embora depois eu ficasse sabendo que a soma beirava os R$ 30 – eram só notas pequenas. Depois, o assaltante inexperiente rumou para o setor de bebidas, onde se apossou de duas garrafas de Big Apple, enquanto o comparsa, este de capacete na cabeça, tomava conta do caixa e dos clientes. Uma das mulheres que pagava a conta quando eles chegaram respirava ofegantemente – pensei até que chorava – e o ladrão com capacete a tranquilizava, indicando que não haveria maiores danos aos clientes.
Quando as coisas se acalmavam, apareceu um terceiro meliante, também com traços jovens, que deveria estar esperando à porta. Entrou e ordenou à mulher que se desesperava que o entregasse o celular. Eu, a um metro dela, previ que o meu seguiria o mesmo caminho e involuntariamente pus a mão no bolso para entregar o aparelho assim que ele gentilmente me solicitasse. Mas ele olhou para mim e não disse nada; eu tirei a mão do bolso e olhei para o lado, com total cara de desentendido. Não pediu, não seria eu que ofereceria.
Só que ele se virou para a outra mulher e gritou pela aliança dela, que atendeu prontamente. Fiquei com dó, poderia gerar um problema conjugal desnecessário. Aí eu tive certeza de que eu seria o próximo saqueado. Eu, com óculos escuros na cabeça, cordão e pulseira de prata, celular e carteira nos bolsos. O assaltante me fitou e aí que eu me virei mesmo para o fundo do supermercado com olhar vazio, como se ainda não tivesse percebido o que se passava. O meliante esboçou um passo em minha direção, mas talvez tenha me achado tão sonso que resolveu me deixar pra lá. Resultado: todos os pertences intactos comigo.
O mais nervosinho, dono do revólver, ainda pegou dois uísques, eles saíram correndo e entraram em um carro que os aguardava à porta. Sumiram no mundo. Um absurdo. Como eu disse, eram menores. Com garrafas de bebida alcóolica e um carro. É revoltante. A não ser, claro, que um deles seja o motorista da rodada e esperem o último da turma fazer 18 anos para abrirem as garrafas.
2 comentários:
Ulisses,
Acho que você não mora na mesma selva de pedra que eu habito. Moro na cidade de São Paulo, onde assaltos ocorrem sob nossos olhares impotentes e, vez ou outra, somos nós as vítimas. Assaltos que levam de nós a paz, a dignidade, que fazem com que bens materiais nada signifiquem diante da iminência de sermos mortalmente feridos. Menores... O assunto está em voga ultimamente. Deve ser diminuída a maioridade penal? Uns acham que sim, outros que não. E eu, que já sofri um sequestro-relâmpago traumatizante, sou a favor de muito mais que a diminuição dessa idade de punibilidade penal, eu sou a favor da pena de morte. Assaltos que bem poderiam não ocorrer, fossem as nossas leis eficazes, fosse nossa polícia bem paga e bem equipada. Fosse...
Cheguei a achar que os assaltantes te poupariam ao descobrir que você é corinthiano.
Postar um comentário