Demorou a acontecer, mas a espera tinha valido a pena. O casal já estava junto há um tempo e, aos poucos, eles foram naturalmente subindo degraus na escala da intimidade. Faltava chegarem ao último – ela preferiu esperar a hora certa, para que cada detalhe fosse perfeito, e ele entendeu.
Assim, sem pressa, com todo o tempo e espaço do mundo, as coisas aconteceram. À meia luz, à trilha sonora de uma balada romântica leve. Tudo conforme o planejado, bem como eles sonharam. Agora os corpos, ainda quentes e ofegantes, se abraçavam, enquanto ele vagarosamente oferecia um cafuné ao cabelo dela. A sensação era a de que poderiam ficar ali para sempre, o universo estava em segundo plano. Até que aquele reconfortante silêncio foi quebrado.
- Eu preciso te contar uma coisa. Sei lá, prefiro que você saiba por mim.
O sorriso simples dela se fechou e a boca articulou uma interrogação. Os olhinhos, então docemente apertados, se assustaram. Arregalaram-se. Pareciam prever algo não muito bom.
- Ahm?
- É que... eu viajei com meus amigos no fim de semana.
Isso ela sabia. Mas jamais imaginava que pudesse ter acontecido algo que interferiria na relação do casal e que merecesse a seriedade que o tom de voz dele sugeria. A voz dela estremeceu.
- E...?
- A gente bebeu bastante.
- Fala! Tô ficando agoniada! O que que aconteceu?
Ela o chamou pelo nome, algo absolutamente incomum.
- Tinha muita gente, pessoal tava animado. Fizemos um churrasco.
- E...? Pelo amor de Deus, termina.
- Na roça! Um churrasco na roça. E eu tô cheio de marcas de picada de carrapato até hoje, algumas parecem ser bem recentes. Acho melhor você já se preparar para se coçar também.
Ele estava certo. E, naquele dia, ela aprendeu que não existem momentos perfeitos. Mesmo os melhores trazem embutidos pequenos problemas. Alguns bem pequenos mesmo e, não importa o quanto se tente, são quase impossíveis de se localizar.