Há muito tempo atrás (muito tempo mesmo!), ele nasceu. Parecia ter como missão tornar a vida mais simples. Perambulou por aí até o dia em que topou com uma câmera. E o menino de nome estranho se transformou no fotógrafo Reyner Araújo. Dali para o sucesso foi um pulo. A cada clique na máquina fotográfica, engordava a conta bancária, substituía equipamentos e consolidava uma legião de fãs boquiabertos.
Já na faculdade conheceu jovens garotos — quase com idade para serem seus filhos. Isso não foi obstáculo para que se entendessem perfeitamente, compartilhassem pensamentos e fizessem parte da mesma turma por anos. Mas o tempo de parceria nem sempre foi contínuo, já que vez ou outra ele se afastava. Simplesmente sumia do mapa. Quanto aos outros, pacientemente esperavam-no e logo logo ele voltava, mais maluco do que nunca.
Maluco? Talvez. Provavelmente ele tem é uma forma particular de enxergar o mundo. A lente dos seus olhos vê tudo mais belo do que realmente pode ser. Esforça-se tanto para que a sociedade moderna seja menos cruel e mais humana que às vezes acredita que consegue. Por conta disso, seus relatos nem sempre são fiéis à história concreta, mas são carregados uma ternura incomparável.
Recebeu algumas alcunhas para suprir a tortuosa pronúncia do seu nome. Fez-se de Roger, Serginho e tantos outros, até quando foi carinhosamente elevado à categoria de Muqueca. E assim ficou. Simples e direto: o Muqueca, nosso Muquequinha...
É conhecido pelo porte pequeno, porém robusto — físico conseguido graças à natação na adolescência. E, paradoxos à parte, Muqueca conseguiu, por muito tempo, ostentar uma cabeleira esvoaçante mesmo sendo calvo. Particulariza-se por uma risada assaz espontânea, geralmente precedida por um trocadilho obsoleto proferido por ele mesmo.
Nunca concluiu o curso universitário. Havia outras prioridades. Numa dessas, juntou suas economias e nos deixou. Criou coragem e foi seguir a vida na Irlanda depois de, embora ele negue, uma curta temporada em Portugal. Mas voltará. Logo logo.
Pelo bom coração e atitudes benevolentes, vive dizendo que é incompreendido e que vai mudar seu jeito, ser mais mau. Vai nada, Muqueca... Personalidades não mudam assim. Ele sempre será um companheiro especial, disposto a ouvir quem precise e conversar, com as mais doces palavras amigas — quer elas contemplem a realidade ou não.
Isso que eu falei.