domingo, 14 de setembro de 2008

Saudades de um cara 3

A terceira edição do Saudades de um cara é bastante especial. Além da trajetória de vida de uma pessoa fantástica, traz dois recados: boa sorte na Europa e feliz aniversário, Muqueca. Saudades de você.

Há muito tempo atrás (muito tempo mesmo!), ele nasceu. Parecia ter como missão tornar a vida mais simples. Perambulou por aí até o dia em que topou com uma câmera. E o menino de nome estranho se transformou no fotógrafo Reyner Araújo. Dali para o sucesso foi um pulo. A cada clique na máquina fotográfica, engordava a conta bancária, substituía equipamentos e consolidava uma legião de fãs boquiabertos.

Já na faculdade conheceu jovens garotos — quase com idade para serem seus filhos. Isso não foi obstáculo para que se entendessem perfeitamente, compartilhassem pensamentos e fizessem parte da mesma turma por anos. Mas o tempo de parceria nem sempre foi contínuo, já que vez ou outra ele se afastava. Simplesmente sumia do mapa. Quanto aos outros, pacientemente esperavam-no e logo logo ele voltava, mais maluco do que nunca.

Maluco? Talvez. Provavelmente ele tem é uma forma particular de enxergar o mundo. A lente dos seus olhos vê tudo mais belo do que realmente pode ser. Esforça-se tanto para que a sociedade moderna seja menos cruel e mais humana que às vezes acredita que consegue. Por conta disso, seus relatos nem sempre são fiéis à história concreta, mas são carregados uma ternura incomparável.

Recebeu algumas alcunhas para suprir a tortuosa pronúncia do seu nome. Fez-se de Roger, Serginho e tantos outros, até quando foi carinhosamente elevado à categoria de Muqueca. E assim ficou. Simples e direto: o Muqueca, nosso Muquequinha...

É conhecido pelo porte pequeno, porém robusto — físico conseguido graças à natação na adolescência. E, paradoxos à parte, Muqueca conseguiu, por muito tempo, ostentar uma cabeleira esvoaçante mesmo sendo calvo. Particulariza-se por uma risada assaz espontânea, geralmente precedida por um trocadilho obsoleto proferido por ele mesmo.

Nunca concluiu o curso universitário. Havia outras prioridades. Numa dessas, juntou suas economias e nos deixou. Criou coragem e foi seguir a vida na Irlanda depois de, embora ele negue, uma curta temporada em Portugal. Mas voltará. Logo logo.

Pelo bom coração e atitudes benevolentes, vive dizendo que é incompreendido e que vai mudar seu jeito, ser mais mau. Vai nada, Muqueca... Personalidades não mudam assim. Ele sempre será um companheiro especial, disposto a ouvir quem precise e conversar, com as mais doces palavras amigas — quer elas contemplem a realidade ou não.

Isso que eu falei.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Saudades de um cara 2

Parceiros são parceiros, para qualquer ocasião. Sempre dispostos a estender a mão quando requeridos, sem mensurar esforços. Assim, o brilho do sucesso de um reflete no outro. Algumas duplas fizeram histórias de companheirismo e marcaram época juntos, como He-Man e She-ha, Claudinho e Buchecha, Diego e Robinho e Issoqueeufalei e Blog do Cano.


Ao ser convocado a participar do projeto Saudades de um cara, o jornalista Matheus Espíndola não hesitou e, de cara, detalhou, brilhantemente, a trajetória de vida de outro grande camarada: .


Por Matheus Espíndola


A princípio, seria um cara genérico, como tantos outros. Moreno beirando o preto, óculos e cabelos crespos. Até aí nada demais. Mas eis que no momento da sua gênese, surge uma inovação em termos de formato humano. O criador enunciou: “Como uma estrela, evidenciar-lhe-ei os cinco membros. E será o homem-elástico. Seu crescimento nunca se findará”. Assim ele foi sintetizado, e ficou conhecido como Ré.


No dia em que um pé pisou o assoalho do Eucalipto e, dois metros e meio atrasado, chegou seu respectivo joelho sem pêlos, a multidão se perguntava: “Quem será esse viadinho que nos pede abrigo?” A resposta veio dirigida a uma donzela, desejosa de chamas para acender o seu cigarro. “Sou o Ré. E tenho fogo” — disparou, completando com uma cusparada de fumaça ao ar. Foi assim que tal sujeito começou a entrar para o seleto hall dos melhores caras do mundo.


Encontrou na inacreditável admiração por seu amigo de infância Didi o passaporte para se firmar na turma de COM 2004 e, por incrível que possa parecer, tornou-se um cara indispensável. Defensor árduo dos homossexuais, dos homofóbicos e dos ateus, Ré mostrou, por meio de argumentos firmes, ser sempre um cara muito convicto em suas posições.


No entanto, sua principal contribuição veio por meio da disseminação de uma arte na qual era mestre — batizada de “reginaldisse”, em sua homenagem. Tal dom consiste em fazer exatamente aquele comentário inconveniente. A sentença que não deve ser dita, em hipótese alguma, nesse determinado momento, justamente a essa pessoa. E essa foi sua consagração!


Vez por outra era visto sentado em sua cadeirinha de balanço, jogando dominó na sacada de seu apartamento distante, fumando. Às vezes, lá do alto, ele lançava seus braços elásticos, só para cutucar os amigos e dizer qualquer coisa com sua voz equalizada no grave. A frase sempre começava assim: “Hein, caaara...”


Detentor de braços ilimitados, Ré abraçou toda a turma, de uma só vez — e se quisesse, seria capaz de abraçar o mundo. Um companheiro de todas as horas, ou melhor, de “todos os dias”. Aliás, muito ele lamentou, em vão, por ser zoado pelos amigos “todos os dias”. Não havia mal em zoar. O problema é que isso acontecia “todos os dias.”. Agora fica a saudade, pois só temos esse amigo de vez em quando. E como queríamos que ainda fosse “todos os dias”...!


Isso que eu falei.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Saudades de um cara

Inauguro agora esta seção que é mais um antigo sonho utópico a se tornar realidade. Saudades de um cara é um projeto que, desde a derradeira separação entre meu passado e presente profissional, penso em colocar em prática.


Aqui recordarei minhas impressões sobre grandes ícones do meu passado recente. O que vivemos, o que mais marcou. Desde célebres semi-desconhecidos a grandes parceiros. Serão mini-biografias, que, espero, suscitem lembranças nas mentes e corações de muitos. Sintam-se à vontade para complementá-las. Para começar, o maior símbolo de toda uma geração: Paulo Dimas de Oliveira.



— Paulo Dimas...?

— de Oliveira!


A apresentação não deixa dúvidas: ele quer dialogar. Fala fácil, vocábulos eruditos e tom de voz seguro e ao mesmo tempo maleável. Esse é Paulo Dimas de Oliveira, ilustre cidadão viçosense, aventureiro das madrugadas. O sorriso é tão largo e espontâneo que a ausência da arcada dentária superior esquerda quase passa batida. Quando consegue articular um raciocínio, Paulo Dimas é uma figura de excelente troca de idéias. Mesmo quando suas respostas não têm, absolutamente, qualquer relação com as perguntas que lhe são oferecidas.


Amante da música, vive cantarolando sucessos de décadas passadas. Ganhou, assim, a alcunha de Paulo Ricardo. “Mas Paulo Ricardo é um homem alto”, observa, a contragosto. As letras das canções não seguem a rigidez de quando foram escritas e um verso ou outro é suprimido em prol de uma cadência mais intensa. Paulo aprecia o rock brasileiro e a MPB. É mesmo um rapaz latino-americano. Só não tem uma música preferida, tem “várias”.


Por onde passa, encanta a todos com sua doçura e inocência. “Me dá cinqüenta centavos?” “Para quê, Paulo?” “Para comprar cachaça”. “Não tenho...” “Ummmm. E um real?” Às vezes, bem de vez em quando, é tomado por um súbito desejo incontrolável de se apossar da bebida alheia. Mas o que ele não aceita mesmo é o desperdício: se um restinho de líquido sobrou e está dando sopa, chama o Paulo que ele o liquida.


Paulo Dimas de Oliveira tem uma história de vida interessante. Estudou Química, Medicina, várias ciências. Jogou muita bola pros lados do Novo Silvestre – de médio-volante, camisa cinco. Construiu obras, desde que os materiais chegassem, claro. Quando não, aguardava-os com um rolé pela Universidade, de bobeira, esperando-os pacientemente.


A maior paixão de Paulo Ricardo chama-se Crube Atrético Mineiro. Mas o Galo divide o coração de Paulo Dimas com o Framengo, o São Paulo e o Grêmio – um amor em cada canto do país. Fora do Brasil, Paulo gosta só da Roma.


Paulo Ricardo é mais entre tantos cidadãos mineiros, católicos, que saem às noites à procura de um pouco de diversão. Mas ele é um pouco mais que isso: é uma prova de que a felicidade pode ser encontrada nas coisas simples da vida. Vida que ele segue, sendo expulso de um boteco aqui, fazendo amigos que amanhã não vai recordar o nome ali ou só entoando uma doce serenata pelas calçadas para quem quiser parar e contemplar. Ensinando a viver.


Isso que eu falei.