domingo, 27 de junho de 2010

Histórias que a bola não contou - Parte I

17 julho de 1994: Os olhos do mundo voltam-se para uma penalidade. Nos Estados Unidos, Brasil e Itália decidem quem será o primeiro tetracampeão mundial de futebol. Pelo lado canarinho, Romário, Branco e Dunga já marcaram e Márcio Santos desperdiçou. Na Esquadra Azurra, apenas Albertini e Evani converteram. Baresi e Massaro perderam as oportunidades. O próximo a cobrar é o italiano Roberto Baggio. Se ele errar, o Brasil é tetra. Baggio se concentra, caminha e bate. Taffarel cai para a direita e ele acerta o ângulo esquerdo. Golaço.

O jogo segue. O próximo é o Bebeto. Ele está nervoso, a quarta estrela depende do seu chute. Faz cara de choro, treme. Suando frio, não toma distância e bate forte, mas o goleirão Pagliuca voa até o canto e segura a bola rente ao corpo. Bebeto chora. Os italianos comemoram, ainda estão vivos na partida. Empatados em 3 x 3, Brasil e Itália partem para as cobranças eliminatórias alternadas. Em melhor momento psicológico, os europeus recomeçam a série. O meio-campo Donadoni pega a bola, ainda rindo, e converte fácil o quarto tento da Azurra. O Brasil precisa marcar para continuar na disputa. A responsabilidade é do irreverente Viola, reserva da equipe. O atacante dá tchau para a torcida azul, olha a bola, faz uma dancinha marota antes de chutar e bate pra fora. Bem pra fora.


Os italianos comemoram, invadem o campo, dão cambalhotas. A televisão mostra ao mundo o narrador italiano gritando e comemorando o tetra abraçado com o ex-jogador Paolo Rossi. Os brasileiros consolam Viola, já às lágrimas. Zagallo questiona o juiz se não havia mais cobranças – perdera a conta. A culpa da derrota cai sobre o técnico Carlos Alberto Parreira e o futebol implantado por ele, pragmático, sem um camisa 10, sem espetáculo, de fracasso previsível. No aeroporto, no retorno ao país, uma multidão recebe o time canarinho com insultos e uma faixa enorme, escrito em letras garrafais: time de pipoqueiros. Baggio é eleito o melhor jogador da copa e o melhor jogador do mundo nos próximos dois anos. Deixa a Juventus e é vendido ao Real Madrid por 112 milhões de dólares, a maior transferência do futebol mundial até hoje.

Bebeto vira sinônimo de medroso. Parreira, de burro. Viola foi, por uns tempos, inimigo público número 1 do povo brasileiro e até hoje é motivo de piadas no mundo inteiro. Depois de ficar famoso mundialmente, chega a jogar uma temporada num time pequeno italiano, mas não faz sucesso. Converteu-se ao budismo e diz ter encontrado a paz interior. Vez por outra dá entrevistas a TVs italianas e diz nunca ter entendido o que aconteceu com ele naquele fatídico 17 de julho. O dia que todos os brasileiros querem esquecer.


3 comentários:

João disse...

E agora pra sempre vou imaginar um Viola budista.

ThiagoFC disse...

Sugestão para uma parte 2: Brasil vence a Itália em 1982.

Bom texto, apesar de ser um revisionismo sobre um dos grandes pilares da cultura dos brasileiros que hoje estão entre os 25 e 30 anos, o tetracampeonato na Copa de 94. Mexendo com coisas assim, se você começar a causar polêmicas, começa a seguir os passos do Saramago! hehe

Régis André disse...

Ô loco! Lá pelo meio eu comecei a pensar: "mas não foi assim que aconteceu"! hahaha!

Já é legal pensar em "futuros" alternativos, mas olhar pra um evento passado e "modificá-lo" nos faz pensar como uma coisa boba como um gol poderia mudar a vida de tanta gente envolvida.