quarta-feira, 7 de julho de 2010

Histórias que a bola não contou – Parte V

2 de julho de 2010: O relógio marca 42 minutos do segundo tempo quando Daniel Alves ajeita a bola para cobrar a falta que pode empatar em 2 x 2 o duelo entre Brasil e Holanda pelas quartas-de-final da Copa do Mundo. O lateral-ala-meia se concentra e mira a pelota, sabe que o sonho do título em território africano depende – e muito – do seu chute. Daniel ainda não apresentou seu melhor futebol em nenhum jogo do mundial, é agora ou nunca. Lembra-se de Branco em 1994. Respira. Não toma distância e chuta. A bola viaja e acerta o ângulo esquerdo do goleiro Stekelenburg (aproveite e aprenda pelo menos como se escreve o nome do guarda-metas laranja: S-te-ke-len-burg). O estádio Nelson Mandela Bay vive seu momento de maior euforia.

O Brasil, que já vinha melhor desde meados do segundo tempo, cresce de vez na partida, mesmo com um homem a menos, após a expulsão do volante Felipe Melo depois de um pisão irracional no meia Robben. O treinador Dunga põe o time para frente e tira Gilberto Silva para dar lugar a Grafite. E começa a prorrogação.

Com sinais de cansaço dos atletas dos dois lados, o jogo perde fôlego. Um ou outro chute a gol e o apito final, é hora de decidir nos pênaltis quem passa de fase. Boas lembranças vêm, agora, de 1998.

Dunga conversa com seus comandados. No primeiro tiro, Kaká converte. Assim como Daniel, Michel Bastos e Nilmar. Júlio César para os chutes de Robben e Sneijder e a Seleção está nas semifinais.


O jogo contra o Uruguai é fácil – 3 x 0. Os favoritos Brasil e Espanha decidem a Copa da África do Sul.

O primeiro tempo é do time vermelho, que abre o placar com o artilheiro David Villa e tem a defesa mais bem postada, segundo palavras do narrado Luciano do Vale. Já no início do segundo tempo a torcida brasileira exercita sua fúria e fala mal do Dunga, xinga o Felipe Melo. Cadê a renovação, os meninos da Vila? A liberdade de imprensa? Começavam até a levantar um mosaico em pleno Soccer City com uma foto do Ronaldinho Gaúcho matando uma bola no peito quando Kaká empata a partida. Agora ninguém sabe mais se apoia, se corneta, se escreve alguma coisa sobre o Galvão Bueno no Twitter. É final de Copa do Mundo, amigo.

Quando Kaká marca seu segundo gol em uma linda jogada individual e decreta a virada, o mundo enaltece de vez o poderio do futebol brasileiro. Toda a torcida grita Brasil e o pessoal do mosaico vira ele ao contrário, e mostra uma caricatura do Dunga levantando a taça e os dizeres Obrigado, professor!. A modelo paraguaia Larissa Riquelme promete desfilar nua na Sapucaí no próximo Carnaval.


Na entrevista depois do jogo, o técnico brasileiro dedica uma série de palavrões a todos os jornalistas do mundo. Exalta seus comandados, reafirma que sempre soube o que fazia. Manteve-se a coerência.


3 comentários:

João disse...

E eu não ia ter que aguentar Dorival Jr. sendo cogitado na seleção.

ThiagoFC disse...

Agora sim, eu acredito no penta!

E o Dunga xingar todo mundo depois de vencer a Copa é uma das maiores provas de coerência do universo.

Matheus Espíndola disse...

Cara, li tudo de uma vez.

Arrepiei, comemorei, lamentei e ri das artemanhas do destino.

Mas é. Se o Baggio acerta, Bebeto e Viola erram, cruz pro Parreira e era Dunga. E mais, se o Brasil de Felipe Melo leva a taça em 2010, Dunga, seu comprometimento e coerência estariam certo desde começo...

Ideia boa demais!