Era fim de tarde e a ansiedade tomava conta de todos eles. Estava quase na hora do tão aguardado primeiro torneio de MMA do pedaço. A nova mania esportiva ganhou o país e chegou até eles. Faltava apenas a porta do depósito ser fechada, para eles terem certeza de que ninguém mais apareceria por ali. Pouco antes das 18 horas – no horário previsto – as chaves giraram na fechadura e os personagens saíram de cartazes, caixas de bonecos e enfeites de bolo para dar início à competição.
Todos os dias quando os humanos fecham as lojas de produtos para festas infantis, super-heróis e desenhos animados à venda sob as mais diversas formas saem de suas embalagens para conversar. Falam de sua força, a história de vida de cada um e imaginam como será a criança dona da festa que eles decorarão. São amigos, planejam brincadeiras e atividades para passar o tempo. E, numa dessas, o pessoal da Liga da Justiça teve a ideia de organizar o torneio de luta entre eles. A única regra: para não ser injusto com ninguém, estava proibido o uso de poderes.
A semana foi de divulgação do evento, inscrições e montagem da tabela. Os bonecos tiraram muitos objetos de madeira das caixas e montaram um ringue, com tatame de espuma. Chegara a hora do primeiro combate. Sem surpresas, o Shrek confirmou o favoritismo e bateu fácil no Tigrão, para orgulho da Fiona e tristeza do Pooh, que quase chorou, coitado. Em seguida, a primeira luta da categoria elite: Ryu contra Thor. A briga foi boa, a galera quase não piscou. A Moranguinho e a Barbie morriam de dó a cada golpe mais forte. Um Power Ranger dessas versões mais modernas era o mais exaltado, gritava o tempo todo e um bonequinho do Chaves ficou tão tenso que sofreu um piripaque. Sem poder soltar um hadouken, o japonês dos videogames ficou sem saber como atacar o oponente e acabou perdendo por pontos. O juiz Harry Potter ergueu o braço do loirinho do martelo, como campeão da rodada.
O próximo combate era o mais esperado da noite: Wolverine contra Batman. Os dois entraram no ringue de madeira mal-encarados. O Morcegão começou melhor, dominando a luta. Mas o mutante tinha mais raiva. Quando o locutor Cebolinha deu início ao terceiro lound, o herói de Gothan City arremessou um bumerangue contra o Wolverine. Pelo entendimento dele, arma não era poder e poderia ser usada. O x-man, assustado, alçou suas garras e rachou a arminha de plástico em duas. Em seguida, atacou o Morcego, acusando-o de antijogo. O Lanterna Verde não gostou de como seu amigo de Liga foi questionado e levitou o Wolverine, com a força de seu anel. O Ciclope, que nem é tão chegado assim do cara das garras, tomou as dores em nome do Instituto Xavier e lançou um raio nas costas do Lanterna. Pronto, estava armada a bagunça.
Todo mundo invadiu o campo de lutas para protestar. O Homem-Aranha ainda tentou separar a moçada, fazendo umas barreiras de teia, mas não teve jeito. O Aladin e o Pernalonga saíram na porrada, o Simba discutiu com a Fera, a Dona Florinda bateu no Pato Donald e o Ben 10 toda hora virava um alienígena diferente pra brigar com alguém. O Magneto levantou um carrinho do Hot Wheels e lançou contra o Peter Pan, o Pica-pau bicou o nariz do Pateta e o Coringa ria como um bobo e jogava cartas em uma tartaruga ninja. Lá no canto, a briga era entra palhacinhos e dinossauros. O Flash gritou algo que o Tocha Humana, do Quarteto Fantástico, não gostou e o rapaz do fogo mirou uma rajada incendiária nele. O Flash se esquivou, claro, mas as labaredas atingiram objetos de madeira. O fogo pegou na hora, se alastrou e começou a queimar tudo que encontrou. O Aquaman tentou apagar as chamas, mas sem sucesso.
Em minutos o fogo tomou conta do depósito e partiu rumo a outros andares do prédio e a edifícios vizinhos. A fumaça preta e o clarão incandescente invadiram o bairro. Os personagens tentaram se salvar, mas nenhum deles sobreviveu. As chamas atingiram uma loja de pneus ao lado e a situação ficou ainda pior. O fogo ardeu por alguns dias, causando muitos estragos, prejuízos e, principalmente, tristeza.
Não foi assim que começou o incêndio em uma loja de festas de Juiz de Fora essa semana. É só uma homenagem aos verdadeiros heróis da sociedade, os bombeiros, e um desejo de força aos trabalhadores que perderam tudo.