Aconteceu que, naquela noite, ele sonhou com ela.
Era um amor antigo, dos que marcam o fim da adolescência e o
início da vida adulta. Foi bom, foi puro, foi jovem. Mas acabou. Depois voltou,
acabou, voltou. E um dia acabou de vez, há talvez seis ou sete anos. Ou mais,
não importa.
Eles nunca mais se viram, muito menos se falaram. Cada um
seguiu seu destino, sem qualquer dor. Faziam parte da vida do outro em
comentários cada vez menos frequentes, que deixaram definitivamente de existir
sem ninguém perceber. Sobraram poucas lembranças, só as mais positivas,
escondidas em alguma gaveta secundária da memória.
Até que, naquela noite, ele sonhou com ela.
Eles se reencontraram e em tempo recorde já esculpiam,
juntos, os mesmos sorrisos de quando se conheceram por amigos em comum. Gargalharam
simultaneamente outra vez, por qualquer coisa. O olhar de cada um voltou a exibir
aquela cor brilhante depois de anos. O jeitinho diferente de falar soava perfeitamente
familiar.
O sabor do beijo continuava o mesmo. Exata e inesquecivelmente
o mesmo.
No sonho, não falaram sobre o que viveram desde o último
encontro. O hiato fora suprimido por um destino agora irrelevante. Só disseram
que sempre souberam que um dia estariam juntos novamente. E mais umas tantas besteiras
meio sem sentido. E aí ele acordou.
Acordou com a estranha sensação de tudo ter valido a pena e
uma pontinha de desejo de que o seu universo imaginário se materializasse no
real. Sentou-se na cama, de onde via a estante da sala que um dia ostentou um
porta-retratos de um tórrido beijo deles. Mais intrigante era pensar que ele acabara de viver um momento especial que não aconteceu, com alguém que jamais saberia do
que tinha acabara de fazer parte.
Acontece que, naquela noite, ela sonhou com ele.
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