segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Saudades de um cara 4

Não é necessário muito tempo para se tornar inesquecível. É preciso tão somente uma ou outra característica que marque. E que agrade. O cidadão poder surgir num salão embaixo da Folha da Mata, em via pública ou numa cozinha. Foi assim com Luiz Cláudio, Plutão e Abreu. O Saudades de um cara de hoje é tipo um saudade de três caras. Três grandes caras.

Por Matheus Espíndola


Não se trata de metrossexualismo, vaidade exacerbada. Não se trata de humanidade e compaixão absolutas. Também não é o caso de gostar muito de caras bobos. É apenas uma justa e inevitável homenagem a mais três ilustres personagens daquele famigerado conto de fadas chamado 2004/2007.


O primeiro chama-se Luiz Cláudio — raro exemplo heterossexual de um cabeleireiro magnífico, exímio transformador da beleza. Só quem necessita de um corte no cabelo sabe o quanto é impossível sair completamente satisfeito de um salão — principalmente de um salão de macho. Mas para ele não havia segredo. Com sua tesoura de lâmina irregular e seu papo agradável, Luiz, como se tivesse uma máquina que fotografasse pensamentos, parecia adivinhar o desejo de seus clientes.


Entre uma tesourada e outra, ele falava basicamente de mulheres e das baladas viçosenses, embora nunca tenha sido flagrado em uma. Vez por outra, passava rapidamente por seu recinto um amigo ou conhecido, só pra animar a conversa masculina na pitoresca sala. Ao final do serviço, mais uma feliz surpresa: o irrisório preço de sua obra-prima: R$ 5 — bagatela que nunca fez questão de acompanhar a inflação. Não que eu fosse um cara vaidoso...


Já Plutão é um ilustre desconhecido, sujeito como tantos outros que, alcoolizado na balada, necessita de um ombro amigo, um refrigerante, um vômito para se reerguer. E foi exatamente assim que se resumiu sua breve participação em nossa história.


Ele apareceu completamente embriagado, numa noite qualquer, no Bar do Leão – onde os jovens bebem até cair, em plena rua, sem festa, sem nada para comemorar. Embora seu diálogo fosse ininteligível, a comunicação foi eficiente. Plutão mal conseguia se equilibrar, mas recebeu carinho e guaraná de companheiros dos quais jamais se lembrará. “Está bem agora, Plutão?” Ele respondeu com um vômito espetacular. Um atalho para que, instantes depois, voltasse para a realidade. Foi bom tê-lo ajudado. Não que fôssemos tão solidários assim...


Por fim, Abreu. Festa na Casa da Vovó, e, como de costume, tudo totalmente anormal. Uma gargalhada escandalosa, daquelas bem debochadas, ressoa na cozinha da esbórnia. Lembrava um antigo personagem de propaganda de posto de gasolina que, após ser atendido, zombava do frentista: “Põe na conta do Abreu. Se ele não pagar, nem eu!”. Dito isso, ele arrancava e ia embora, regurgitando-se em gargalhadas. A manifestação debochada, do nosso Abreu, foi um ingrediente para que a balada ficasse ainda mais engraçada. No entanto, ele acabou sendo esquecido.


Dias depois, festa no Eucalipto. Como já era de praxe, o comportamento dos presentes era vexatório. No meio de toda a bagunça, ouve-se, novamente da cozinha – onde se concentram os bebuns –, aquela mesma gargalhada. Alguém diagnosticou: “É o Abreu!”. Dessa vez ele foi abordado, explorado, e, para a nossa alegria, reproduziu as piadas do motorista gozador da propaganda do Posto Ipiranga: “Deus lhe pague, porque eu to duro! Háááá há há!”. Dizem que o Abreu, pouco tempo depois, foi embora de Viçosa e deu um calote na república do Fumaça. Ele era de fato muito bobo. Na verdade, a gente gostava mesmo desse tipo de cara.


Isso que eu falei.

Um comentário:

Régis André disse...

Dos tres individuos eu so conheci o abreu, mas eu n lembro da cara dele... so lembro da gargalhada, mas n to certo se foi na casa da vovo ou no eucalipto (ou nos dois).

Saudades de tds os caras do não.