segunda-feira, 31 de maio de 2010

Uma penalidade

O jogo acabou. Pelo menos o tempo de bola rolando. Parecia que não terminaria nunca, que partida tensa. Eu tentei muito, mas não consegui jogar bem. O time dos caras é bom, marca bem. Cento e vinte minutos de futebol e ainda zero a zero. Falta pouco.

É o jogo mais importante da minha carreira. Sonhei a vida inteira em estar aqui, agora. Sei o tanto que todos confiam em mim, meus companheiros e meu povo. Eu fiz por onde, sou o atual dono do título de melhor jogador do mundo. Como eu, hoje, talvez só um brasileiro e um búlgaro. O argentino está parando.

Minha história no esporte passa como um filme em minha mente. Desde o comecinho, no Vicenza. Lembro-me do meu primeiro técnico, que me apelidou de Zico, meu eterno maior ídolo, pela habilidade. Lembro-me de quando eu assistia ao Flamengo pela televisão, pra aprender um pouco com o esquadrão de Zico e Júnior. Parece ironia agora.

Será que todas essas pessoas me olhando conhecem minha história? Será que sabem que, quando fui contratado pela Fiorentina, quase tive que parar de jogar bola por conta de uma gravíssima lesão no joelho? Sem falar nos 220 pontos que tomei para costurá-lo.

O mundo lembra que, depois, já na Juventus, acusado de mercenário e traidor pela minha ex-torcida, me neguei a cobrar um pênalti contra a Fiorentina? Uma penalidade que, com certeza, não marcou minha carreira. O cara que bateu, errou. Mais tarde, em lágrimas, beijei um cachecol violeta da Fiorentina e, outra vez, fui aplaudido por eles.

Em 1990 deixei o meu contra a Argentina, na semifinal, na disputa por pênaltis. Mas perdemos.

Se o meu time está aqui, agora, deve muito a mim. Depois do sufoco na primeira fase, fui decisivo no mata-mata. Guardei dois contra a Nigéria, na vitória de virada. Deixei um contra a Espanha e outros dois na surpreendente Bulgária no jogo passado. Falta pouco para o final feliz.

Meu país depende de mim. Sou o líder, o craque, o camisa 10.

Sempre sonhei, desde menino, jogar uma final de Copa do Mundo. O rival dos meus sonhos era o Brasil.

O treinador me grita:

- Roberto, cê bate o último?

- Claro, professor.




Minha pequena homenagem ao gênio italiano Roberto Baggio. Na carreira, Baggio converteu 76 penalidades em 91 cobradas. Uma delas, na partida de quartas-de-final contra a França, na Copa de 1998. A Itália, mais uma vez, foi eliminada.

domingo, 30 de maio de 2010

O Ninja Brasileiro

Todo povo precisa de herois. Qualquer sociedade carece de referências de parâmetros de caráter, coragem, atitudes. Assim surgem os mitos.

O Brasil sempre viveu de importar cultura enlatada, cultuando ídolos distantes. Até o momento em que surgiu um super-heroi nacional, lutando por seus semelhantes e sua nação. Em minha primeira experiência cinematográfica, apresento o Ninja Brasileiro, aquele que veio defender seu povo e explanar seus ideais.





Requisito a crítica honesta de Thiago FC e João Luis Jr., ambos reconhecidamente adoradores de cinema, de herois, de reencontros de amigos, do Brasil (?) e de produções caseiras.

sábado, 29 de maio de 2010

Dream Timão

1 - Dida. 2 - Alessandro. 3 - Chicão. 4 - Gamarra. 5- Vampeta. 6 - André Santos. 7 - Marcelinho Carioca. 8 - Rincón. 9 - Ronaldo. 10 - Ricardinho. 11 - Edilson.

Esse time nunca jogou junto. Nem vai. Mas, na minha imaginação, joga. Foi a equipe que montei com os melhores de cada posição que vi pelo meu Corinthians, a convite do meu amigo, o jornalista Matheus Espíndola para a seção Que time é teu?, do blog Fifa World Cano.

Como é bom poder sonhar.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O time que eu vi

Faço parte de uma geração sortuda que, em sua maioria, tem os primeiros lances esportivos na memória relativos à Copa de 94. Já nos entendemos por brasileiros como campeões do mundo. Criancinha, aprendi que ganhar a Copa é bom, porque todo mundo fica feliz (até a mãe e a vó da gente, que nem entende nada de futebol) e tem carnaval na rua sem ser fevereiro.

Esta minha geração vai para o quinto Mundial em 2010. Somos os mais mal acostumados, privilegiados por ter visto dois títulos e um vicecampeonato pro Brasil. Mais que isso, vimos herois. Confesso que com o tempo deixei de ser torcedor fervoroso da seleção, mas com o que vi dá pra montar um esquadrão invencível.

Na seleção dos meus sonhos não tem Pelé, Garrincha, Zico e nem Sócrates. Destes, eu vejo sempre os mesmos cinco ou seis lances reprisados. E, com todo respeito, não precisamos deles.

Imagine um campo gigante. Uma trave com quantos metros quiser pra cada lado, a perder de vista. Agora suponha que a meta é defendida com a própria vida pela tranquilidade do Dida, a agilidade do Marcos e a técnica do Júlio César. Mas a camisa 1 do meu time, sem mais delongas, é do Taffarel.


A zaga é formada por Lúcio e Juan, orientados por Aldair e Márcio Santos (que não bate mais pênalti). O Aldair grita pro Juan: “Rouba a bola e toca pro Lúcio”, que recebe a ordem do Márcio: “Agora dá um bicão pra frente”.

A lateral direita é do Cafu. Por ali ele joga junto com o Maicon e, um pouquinho mais à frente, de ala, o Daniel Alves. Na esquerda, o Roberto Carlos é o rei. Se tiver falta de longe pra bater, pensei até em uma jogada ensaiada. O Roberto vem correndo, finge que chuta, e quem bate é o Branco, que surge de trás e pega o goleiro caindo. Golaço.

À frente da defesa, os volantes, cinco deles, pra não deixar passar nada. Por ali quem manda em tudo é o Dunga, o capitão da equipe (desculpe Cafu e Lúcio, não tem como tirar a braçadeira do cara). Esse mesmo Dunga, que hoje é criticado por todo mundo, já foi a alma da seleção, o dono do time. E, no meio-campo, berra à vontade: “Marca, César Sampaio! Sobe, Kléberson! Fica, Silva (nessa ele fala com o Mauro e o Gilberto)!”


O Kaká reina sozinho na meia direita. Se receber a bola ali, sai correndo a largas passadas e só para dentro do gol, sob os olhos eufóricos e orgulhosos do Parreira, Felipão e do maluco do Zagallo, os três lado a lado no banco. Do lado oposto do campo, só futebol-arte. Os craques Ronaldinho Gaúcho e o Rivaldo tabelam e se revezam – quando um é o meia-esquerda, o outro chega como segundo atacante. O Ronaldinho bate as faltas nos jogos mata-mata e os dois jogam com camisas 10. Mais pra frente, lá perto da bandeirinha do escanteio fica o Denílson, só pros turcos correrem atrás dele e a gente se divertir com isso.

O ataque é fabuloso. E, por falar nele, a função do Luís Fabiano é ficar parado na área à espera de um cruzamento ou um rebote para guardar mais um. O Bebeto dá passe pro gol de todo mundo e coordena as comemorações. O Ronaldo (ainda magro) vem correndo lá de trás com a bola dominada, fintando fenomenalmente quem cruzar seu caminho. Artilheiro de tudo. Dentro da pequena área, o maior do time, o gênio Romário.

Do outro lado, podem ser quantos e quais forem, de onde vierem, como jogarem. Por aqui, a bola sempre rola mais redonda.




Inspirado em Cai o primeiro zero do placar, de Humberto Gessinger.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Umas coisinhas, antes de começarmos


Foram meses e meses longe das letras. Meu lado escritor completamente adormecido.

Desde que deixei o Espírito Santo, meti-me a estudar para concursos públicos. Foram dias, noites, segundas a sextas e sábados e domingos lendo livros, fazendo provas e conferindo gabaritos. Antes, como primeira providência no retorno à minha boa e velha Minas Gerais, parei de escrever. Senti que precisava dedicar todo meu tempo à minha profissão de estudante. Decisão certa ou não, passei. Em alguns dias serei mais um funcionário do Banco do Brasil. Depois, ainda uma incógnita.

Hora de tirar um tempo pra mim. Estou pondo em dia alguns livros, acordando mais tarde, voltei a jogar CM0102 (e continuo, modéstia à parte, um expert do mundo manager), vou ler os blogs dos amigos (alguma sugestão?). E volto a escrever! Ainda tenho boas histórias que merecem ser registradas. Pretendo explorar mais a ficção, que, para mim, nada mais é que uma curta extensão da realidade.

Seguimos (espero) com nossa programação normal.



Umas coisinhas, antes de começarmos

A primeira coisa é que eu sei que a palavra bobagera não existe. Mas meu pai, mineiro, era assim que falava quando eu ainda era adolescente:

Devia era presta concurso pru Banco do Brasil, no lugar de ficar aí escrevendo essas bobageras.

Fiz as duas coisas. Entrei para o Banco do Brasil e continuei a escrever as bobageras. Um dia, deixei os carimbos de lado e fiquei só com as bobageras mesmo.

Cem melhores crônicas (que, na verdade, são 129) – Mario Prata