12 de julho de 1998: A Seleção Brasileira pisa no gramado do Stade de France para enfrentar os donos da casa, ser campeã e esquecer de vez o fantasma de 1994. Terminar a copa com quatro títulos mundiais e se igualar à Itália é questão de honra. Os canarinhos tentam aparentar confiança, apesar do estádio todo azul e dos problemas da noite anterior. Circulava nos bastidores a informação de que o craque Ronaldo não jogaria, reflexo do mal estar culminado em convulsões na madrugada. A torcida verde-amarela temia que o time não produzisse sem o garoto Fenômeno. Ninguém confirmava ou desmentia, até que o nome de Edmundo apareceu na relação dos atletas que entrariam em campo.
O jogo começa e o Brasil tem como dupla de ataque Edmundo e Bebeto. O Animal ainda vive a boa fase que deu ao Vasco o título brasileiro do ano anterior. O comportamento irracional, no entanto, mantém-se. A câmera mostra Ronaldo no banco, meio amarelo, olhos meio fechados, um pouco suado, com um blusão de frio. Até a cabeça parecia maior. Dificilmente entraria em campo.
Aos seis minutos de bola rolando, o astro francês Zinedine Zidane parte com a bola dominada no meio-campo e quem aparece para recuperá-la é Edmundo. Com um toque genial, o camisa 10 azul aplica um preciso chapéu sobre o atacante brasileiro. Edmundo não deixa por menos e crava uma de suas chuteiras na coluna de Zizou. Ele cai, geme de dor, é imediatamente levado de maca. O árbitro apresenta seu cartão amarelo a Edmundo e diz que na próxima dividida ele está fora. O francês passa por uma minicirurgia caseira à beira do gramado e volta a campo ainda no primeiro tempo. A torcida o aplaude de pé.
O técnico Zagallo procura um substituto para o Animal no banco antes que ele seja expulso. A única opção é Ronaldo, baqueado. O craque entra, sob vaias do Stade de France. Já tinha quatro gols na copa e estava a dois do croata Davor Suker. Edmundo deixa o campo nervoso, chuta a placa eletrônica que indicou a substituição, chuta o quarto árbitro, chuta o banco de reservas, chuta o Zagallo. Ronaldo tenta três arrancadas e é malsucedido em todas, mal consegue se mover.
A partida é monótona até que os deuses do futebol resolvem que ela deve entrar para a história. Nos primeiros instantes do segundo tempo, um escanteio para o Brasil. Rivaldo coloca a bola na área, na cabeça de Ronaldo, que abre o placar. Quase não consegue comemorar. A torcida azul grita ainda mais, confia no primeiro título francês. Zidane está apagado. Próximo lance, outro escanteio. Rivaldo, bola, cabeça, Ronaldo, gol. Inacreditáveis dois a zero. Artilharia da competição.
Em um dos poucos ataques franceses, o goleiro Taffarel se choca com Zidane, que vai ao chão, nocauteado. Silêncio e apreensão entre os le bleus. A França perde forças para tentar a virada. Com o jogo definido, os dois times tocam a bola e esperam o apito final. A torcida francesa rende-se à genialidade do time Canarinho e, cordialmente, enaltece os atletas brasileiros. Nos acréscimos, em um contra-ataque mortal, César Sampaio recebe de Bebeto e dá números finais à partida: 3 x 0.
Dunga, enfim, levanta a taça de campeão do mundo. Zidane aplaude a cena e diz ter perdoado Edmundo – coisas do jogo. Bebeto apaga o trauma de 94. Ronaldo é eleito pela revista francesa World Footballer o maior jogador da era pós-Pelé e ganha uma estátua de bronze na entrada do Stade de France. Esculpiram ele até esbelto, bem disposto, de braços abertos como o Cristo, com o dedinho levantado e tudo.