Já sentiu a sensação de ter a consciência pesada sem saber exatamente por quê? É assim que eu me sinto agora. Hoje tudo está diferente, tudo mudou.
Desde que eu estabeleci minha rotina, os dias vinham sendo exatamente iguais. Até ontem.
Eu sei que por eu ser um cão de rua, nem todo mundo gosta de mim. Já gritaram comigo, me xingaram alto sem eu ter feito nada e um cara uma vez me jogou um chinelo velho. Normal, é a sina dos cachorros vadios. Mas eu tenho amigos, muitos! Pelo menos jurava que tinha.
Acho que já fiz dois ou três meses de vida. Não tenho a menor ideia de quem possa ser meu pai e da minha mãe não me lembro mais. Eu ainda era muito filhote a última vez em que a vi. Ela sumiu. Recordo-me de ter irmãos, um monte, mas nem sei ao certo quantos somos.
Desde que me dei conta de que estava sozinho no mundo, dei meu jeito de sobreviver. Bebia água em poças, comia restinhos de lanches. Sou esperto, acho que devo ter algum antepassado cão de caça. Aliás, nem sei se tenho raça. Gosto de pensar que meu pai é um cachorro de caça e minha mãe descende dos pastores. Eu poderia ter um avô daqueles cães magrelinhos, que correm muito. E uma avó dessas que parecem um bichinho de pelúcia. A verdade é que eu não passo de um vira-lata. Sozinho.
Minha vida mudou o dia em que eu, andando sem rumo, parei em frente a esta faculdade. O tanto de gente me deixou com um pouco com medo. Mas fui muito bem recebido. Ganhei comida e até uns cafunés. Desde então, venho aqui todos os dias nesse horário e me tratam como um rei. Já comi biscoito Passatempo, Fandangos, pedaço de torta de frango com catupiry (essa eu adoro) e até picolé de limão. Um dia me deram um banho, na hora eu não gostei, mas o cheirinho bom fez sucesso. Tenho vários nomes. Cada turma me deu uma alcunha diferente. Eu nem ligo, adoro todos meus amigos.
Aos sábados, o movimento diminui. Mas sempre vem alguém trocar uma ideia comigo, jogar alguma coisa pra eu pegar e trazer de volta em troca de um afago e uns bicoitinhos. Domingo eu não venho, fico na praça em frente à igreja. E nas segundas, abano o rabo de felicidade quando reencontro a moçada.
Enquanto lembro-me disso tudo, olho para todos os lados procurando meus amigos e o que vejo é só o vazio. Está na hora em que nos vemos todos os dias. Mas hoje não veio ninguém. Acho que não gostam mais de mim. Eu devo ter feito alguma coisa que magoou a todos eles. Juro que não sei o quê. Será eles me acham pidão demais? Será que arrumaram outro vira-lata de estimação? Será que eu lambi alguém onde não devia e eles combinaram de não falar mais comigo?
Vou embora. Pra sempre. De cabeça baixa. Gostava de verdade daqui. Desculpem-me qualquer coisa.
Minutos depois o grande portão de metal foi aberto e uma multidão de jovens de mochilas saiu do prédio. Estranharam a ausência do cachorrinho. Procuraram pelas ruas do bairro. Questionaram-se o que poderia ter acontecido a ele. Pensaram no pior e fizeram um enterro simbólico do pacote de ração que haviam comprado para o cão por meio de uma vaquinha e seria entregue hoje. Nunca mais o viram. E ele jamais entenderia o que é o horário de verão.
Inspirado em uma foto de um cão vadio na UFV postada por Régis André no Twitter.
Desde que eu estabeleci minha rotina, os dias vinham sendo exatamente iguais. Até ontem.
Eu sei que por eu ser um cão de rua, nem todo mundo gosta de mim. Já gritaram comigo, me xingaram alto sem eu ter feito nada e um cara uma vez me jogou um chinelo velho. Normal, é a sina dos cachorros vadios. Mas eu tenho amigos, muitos! Pelo menos jurava que tinha.
Acho que já fiz dois ou três meses de vida. Não tenho a menor ideia de quem possa ser meu pai e da minha mãe não me lembro mais. Eu ainda era muito filhote a última vez em que a vi. Ela sumiu. Recordo-me de ter irmãos, um monte, mas nem sei ao certo quantos somos.
Desde que me dei conta de que estava sozinho no mundo, dei meu jeito de sobreviver. Bebia água em poças, comia restinhos de lanches. Sou esperto, acho que devo ter algum antepassado cão de caça. Aliás, nem sei se tenho raça. Gosto de pensar que meu pai é um cachorro de caça e minha mãe descende dos pastores. Eu poderia ter um avô daqueles cães magrelinhos, que correm muito. E uma avó dessas que parecem um bichinho de pelúcia. A verdade é que eu não passo de um vira-lata. Sozinho.
Minha vida mudou o dia em que eu, andando sem rumo, parei em frente a esta faculdade. O tanto de gente me deixou com um pouco com medo. Mas fui muito bem recebido. Ganhei comida e até uns cafunés. Desde então, venho aqui todos os dias nesse horário e me tratam como um rei. Já comi biscoito Passatempo, Fandangos, pedaço de torta de frango com catupiry (essa eu adoro) e até picolé de limão. Um dia me deram um banho, na hora eu não gostei, mas o cheirinho bom fez sucesso. Tenho vários nomes. Cada turma me deu uma alcunha diferente. Eu nem ligo, adoro todos meus amigos.
Aos sábados, o movimento diminui. Mas sempre vem alguém trocar uma ideia comigo, jogar alguma coisa pra eu pegar e trazer de volta em troca de um afago e uns bicoitinhos. Domingo eu não venho, fico na praça em frente à igreja. E nas segundas, abano o rabo de felicidade quando reencontro a moçada.
Enquanto lembro-me disso tudo, olho para todos os lados procurando meus amigos e o que vejo é só o vazio. Está na hora em que nos vemos todos os dias. Mas hoje não veio ninguém. Acho que não gostam mais de mim. Eu devo ter feito alguma coisa que magoou a todos eles. Juro que não sei o quê. Será eles me acham pidão demais? Será que arrumaram outro vira-lata de estimação? Será que eu lambi alguém onde não devia e eles combinaram de não falar mais comigo?
Vou embora. Pra sempre. De cabeça baixa. Gostava de verdade daqui. Desculpem-me qualquer coisa.
Minutos depois o grande portão de metal foi aberto e uma multidão de jovens de mochilas saiu do prédio. Estranharam a ausência do cachorrinho. Procuraram pelas ruas do bairro. Questionaram-se o que poderia ter acontecido a ele. Pensaram no pior e fizeram um enterro simbólico do pacote de ração que haviam comprado para o cão por meio de uma vaquinha e seria entregue hoje. Nunca mais o viram. E ele jamais entenderia o que é o horário de verão.
Inspirado em uma foto de um cão vadio na UFV postada por Régis André no Twitter.
4 comentários:
Acho vacilo essas coisas de histórias ou fotos de filhotes de cachorro porque me dá vontade de ter bicho de estimação de novo.
(mas bela história, de qualquer maneira. horário de verão já é um conceito complicado pra metade das pessoas que eu conheço)
Quando eu li a palavra "faculdade", desconfiei q se tratava de um dos cachorros da fila do RU. Só não tinha pescado a coisa com o Horário de Verão. hehehe
A surpresa do horário de verão foi muito boa! Agora eu me pergunto para onde foi o cãozinho? (rs) Se for em Viçosa, deve estar no DCE Piscina. (rs) Abração, Ulisses.
Uma lágrima escorre do meu olho esquerdo... hahaha!
Por alguns segundos eu fiquei com dó dos cachorros perdidos na ufv, mas daí eu lembrei que eles me passaram carrapatos e brigam no meio das mesas =D
Mas o texto é bom! =P
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