segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Crônica bancária 7


Um sujeito notadamente simples acaba de ter sua primeira conta em banco aberta – uma exigência da nova empresa. Ainda está se adaptando aos meios eletrônicos de controle da economia pessoal. Fez muitas perguntas. Vai trabalhar como servente de obras. Está feliz da vida.

- Pronto. A conta está feita. Agora é só gravar a senha. É com ela que você vai sacar seu dinheiro no caixa eletrônico. Pense numa sequência de seis números e digite aqui.

- Ummm. Ummm. Pode ter o cinco?

- Pode.

- E o sete?

- Pode ter qualquer um. Continue.

- Tá.

******

- Agora digite de novo. É pra confirmar que você não apertou nenhuma tecla sem querer, pensando que estava apertando outra.

******

“A senha fornecida não confere com a anterior.”

- Você não digitou igual. Faça o seguinte: anote neste papelzinho os números e depois digite.

Ele pensa. Escreve. Pensa. Escreve. Pensa... e mostra o papel ao funcionário. Está escrito:

5 7 9 4 5

- Isso. Só que aí só tem cinco números. Coloque mais um.

Ele pensa. Pensa. Pensa muito. Escreve. Vira o papel:

5 7 9 4 5 10

- Não, cara. Agora tem sete! Tire um.

Pensa. Pensa. Rabisca. No papel:

5 7 9 5 10

- Ô amigo, agora tem cinco de novo! O dez é formado por dois números. Acrescente mais um outra vez.

- Ummmm. Então vou pôr o um.

- Boa. Digite aqui rápido antes que você mude de ideia então.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O futuro

Rio Madeira

O ritmo da vida é variável. Dias bons, maus, de felicidade intensa ou de expectativa – cada um passa numa velocidade. Em algum lugar, deve existir alguém com um monte de controlezinhos remotos ditando o ritmo dos dias de cada ser humano. Esse ser sabe como ninguém fazer com que as pessoas aproveitem (ou pelo menos só vivam) o presente ou curtam, dolorosamente, a ansiedade de ter certeza de que os dias melhores estão para chegar. Ele conhece o futuro.

O futuro nada mais é do que a sensação de que haverá vida no próximo dia. Continuação do que então era ontem, só que melhor. É por isso que as pessoas planejam, investem, estudam e sonham. Mas o futuro não chega para todo mundo ao mesmo tempo. Alguns quase nascem com ele, outros o percebem cedo, na maturidade e há os que nunca o verão.

Em uma das bifurcações do trajeto que a vida impõe há um pote de ouro. Mas os dois lados se diferenciam por detalhes imperceptíveis e não há qualquer placa de sinalização. Existe uma infinidade de bifurcações, cada uma com outras tantas opções de vias. Só em uma delas está o ouro. Mas em outra, há um pote de prata e em outra de bronze. E ainda em outra uma cachoeira, uma casa na árvore ou um pôr-do-sol na beira do rio ou no alto da duna. Um show de uma banda nova, um gol da arquibancada do estádio ou um abraço forte. Um pedaço de pizza com Coca-Cola.

O ritmo no futuro é diferente do ritmo no presente. É um ritmo que permite viver e avaliar o quanto daquele futuro antigo já chegou ou está por vir e o quanto foi só um capítulo escrito que nunca será encenado. O dono do controle sabia de tudo, desde o início.

Para quem não sabe, fui aprovado no concurso do Ministério Público, para analista de Comunicação Social. Minha chance de fazer um pé-de-meia legal e voltar para a área de formação. Escolhi um estado onde achei que pudesse ter uma melhor colocação e o resultado é o primeiro lugar em Rondônia. Eu sempre soube que talvez tivesse que deixar tudo o que tenho para trás por um tempo. Mas é um concurso para cadastro de reserva, o que não me garante certeza alguma de que serei convocado. Eu espero. Num ritmo bem lento. Deseje-me boa sorte.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Que viagem


Dois amigos jogam conversa fora em um bar movimentado enquanto bebem cerveja depois do expediente. Eles moraram ao mesmo tempo em outra cidade anos atrás e relembram histórias divertidas dos tempos de juventude – um deles ainda tem família por lá. O papo é bom, animado. Mais tarde, numa mesa próxima, por obra do acaso, reencontram outro colega, também das antigas, também ex-morador da cidade.

Cumprimentos, abraços fortes, risadas altas. Agora o assunto “memórias” ganha força. E, à medida que as horas passam e mais álcool chega aos cérebros, bons casos vêm à tona e as gargalhadas aumentam de volume. Querem saber por onde anda a turma, quem se formou em quê, quem casou com quem. Até que alguém solta a frase: “Precisamos marcar de voltar lá. Juntos! Vamos combinar, avisar a galera. A gente fica um fim de semana, faz churrasco. Topam?”. Os dois aceitam prontamente. Um pensa em reencontrar o melhor amigo da infância, que já até tem filho. O outro, em rever o primeiro amor, saber se ela ficou bonita como sempre pareceu que ficaria. Fora encontrar o pessoal do time, do inglês. Marcam para o próximo sábado. Se não der, do outro não passa.

Quando termina a terceira saideira, é hora de ir embora, a patroa está reclamando da demora. Outro abraço. “Vamos marcar mais vezes hein. Anotou meu número?”

Na sexta-feira seguinte, um deles está em viagem a trabalho fora do estado. De lá, toma um vinho sozinho no hotel e, por MSN, combina com os colegas de escritório de voltarem ao sítio onde fizeram a festa de fim de ano da empresa dois anos atrás. Que loucura foi aquilo, todo mundo perdendo o controle. Para o próximo fim de semana. Sem falta. O outro dá plantão no hospital. Recebe um telefonema e papo vai, papo vem, acerta com um amigo do cursinho de passarem o próximo carnaval na cidade pequena para onde fizeram a última viagem dos tempos pré-faculdade. Vão lá assim que der procurar casa para ficar. E o terceiro está em outro bar, com outra turma. Entre um copo e outro de cerveja e uma palitada num petisco, fecham um acordo: virar o próximo fim de semana numa rave megadivulgada. Até encomendam um doce. Mais cedo, ele marcou com o pessoal do futebol uma viagem à praia sabadão que vem, casa do tio de um deles. Ver umas gatas de biquíni e curtir um sol. Sela o acordo na mesa com um brinde e levanta-se para ir ao banheiro. Na fila, conhece duas amazonenses, troca uma ideia e garante às moças: próximo fim de semana em Parintins, com bandeira do boi Caprichoso e tudo. Isso porque vai ser padrinho de casamento da irmã no dia às 19 horas ali na Matriz.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O Ninja Brasileiro 3

Algumas pessoas quando ingerem bebidas alcoólicas, tornam-se aventureiras. Outras, galanteadoras. Um terceiro grupo, talvez, poeta. Quem sabe ainda, há os que transformam-se em poliglotas. De um tempo para cá, eu e meus amigos, quando sob efeito de cerveja e aguardente, tornamo-nos cineastas.

Chegou a hora do lançamento do aguardado O Ninja Brasileiro 3 - A luta contra o bullyng não pode parar!, produzido em Viçosa-MG em novembro de 2010, numa noite fria de um encontro da turma de 2004 de Comunicação Social da UFV.



Percebe-se que é um material de qualidade inquestionável, com atores bem ensaiados e enredo consistente. Relembre a trajetória do Ninja aqui.