sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Chamas de Sabor
sábado, 24 de setembro de 2011
Duas
Elas eram amicíssimas, não se desgrudavam nunca. Sabiam tudo uma da outra e nunca tinham brigado sério. Era até raro não vê-las juntas. Eram muito parecidas, só os amigos mais próximos sabiam identificar com precisão quem era quem. Até o pai delas se confundia às vezes. E eram incrivelmente bonitas.
A beleza delas sempre fez sucesso. Atualmente as duas trabalham no mesmo lugar e, por lá, todo o bairro já ouviu falar das irmãs lindas e iguais. O gerente nunca declarou abertamente, mas, após a contratação delas, a procura pela empresa cresceu exponencialmente. Coincidência ou não, pelo público masculino.
Elas já se acostumaram a chamar a atenção. Foi assim durante toda a faculdade, em que as festas do curso que fizeram juntas eram as mais cheias. Nunca faltaram amigos querendo ser do mesmo grupo de trabalho ou perguntando, em princípio inocentemente, qual a boa do fim de semana. A biblioteca também se enchia mais quando elas estavam por lá.
Na escola não foi diferente. As irmãs eram o sonho de todos os colegas. Desde novinhas faziam sucesso com os tidos como inalcançáveis caras do terceiro ano. Eram superpopulares e escolheram a dedo os rapazes com quem se relacionaram. O vôlei da Educação Física tinha até plateia e o time das olimpíadas interclasses tinha mais torcida que o time de futebol profissional da cidade.
Na adolescência fizeram alguns trabalhos como modelos, sempre juntas. Eram as mais procuradas da idade para as campanhas publicitárias. Mas não quiseram seguir a carreira porque sabiam que uma hora teriam que se separar. Também foram as musas do curso de inglês, do balé e da academia.
Quando crianças, elas receberam todos os elogios possíveis. A praça ficava lotada de velhinhas babonas quando elas estavam lá brincando no escorregador. Os pais ficavam cheios de orgulhos das crias. E as gêmeas sempre juntas.
Já começaram a ser percebidas como diferentes dos demais ainda na maternidade. Os enfermeiros opinavam que elas eram mais bonitas, mais engraçadinhas que os outros bebês. E daí em diante naturalmente as irmãs mantiveram os holofotes sobre si.
Na verdade, o sucesso começou até antes disso. Meses antes delas nascerem, comentava-se que aquele espermatozoide era mais vistoso que os outros. E que ainda iria dar o falar.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Vida maquiada
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Prestativo
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
O menino e a bola
O menino foi o último a ser escolhido, mas isso não era raro. No campinho tinha o número exato de garotos para uma partida, senão nem o deixariam jogar. O colega que perdeu o par ou ímpar reclamou que seu time ficaria mais fraco porque o menino estaria nele. Os outros argumentaram que sempre um lado fica um pouco melhor que o outro, não tem jeito.
Mandaram o menino ficar parado na frente, na banheira. E ele foi. Mas na primeira jogada perdeu a bola e acusaram-no de ter matado um contra-ataque. Olharam feio pra ele. Depois, recebeu a bola em boa posição, mas não conseguiu dominá-la e a jogada outra vez não surtiu efeito. Recebeu, em consequência, um xingamento pessoal cabeludo. Os que eram mais seus amigos o defenderam.
Mandaram o menino ficar parado atrás, fechando a zaga. E ele foi. Mas deu azar que de cara enfrentou o mais habilidoso da turma, que o driblou com facilidade, correu mais que ele e bateu cruzado, fazendo um golaço no cantinho para inaugurar o placar da pelada. Só um amigo do menino tocou em sua mão e o condecorou pela tentativa; ainda deu uma dica de marcação. O resto gritou com ele.
Mandaram o menino pro gol, pra atrapalhar menos. E ele foi. Mas, pra acabar de vez com qualquer chance de redenção, sofreu um gol debaixo das pernas logo depois de o placar ter ficado em 1 a 1. Nem foi tão culpa dele, a bola desviou na defesa e o surpreendeu. Mas ele foi condenado. Expulsaram o menino da brincadeira e um time ficou com um a menos. Foi embora mais cedo.
Mas o que ninguém sabia é que o menino, ainda bem criança, já era poeta. Tinha mil obras. Quando chegou em casa, pegou um lápis e o caderno e teceu um lindo poema sobre futebol. Nele, o menino batia na bola melhor que o Zico, driblava melhor que o Mané e fazia mais gols que o Pelé. Era o melhor do mundo.