Agora é comigo.
Capítulo 2 - Em nome da lei
Pascoal sentiu um pânico jamais experimentado. Com as pernas trêmulas, abraçou o tórax do amigo de infância e clamou por seu nome. Pantaleão não esboçou qualquer reação, estava mesmo sem vida. Inevitáveis lágrimas vieram à tona. O tom mórbido do azul da língua do cirurgião compunha a cena de filme de terror. Às pressas, Pascoal saiu em busca do jovem e despachado Cardoso para decidirem as providências.
Em minutos, estavam os dois ao lado do cadáver no banheiro trancado. Cardoso não acreditou no que viu e Pascoal ainda aparentava estado de choque. O sobrinho sugeriu levarem qualquer desculpa aos convidados para o sumiço do anfitrião, enquanto Pascoal tinha o celular em mãos prestes a ligar para o Doutor Quaresma, o delegado. Cardoso rejeitou veementemente a ideia, temia pela reputação da família e lembrava-o dos abutres da imprensa à porta do casarão. Mas Pascoal achou por bem acionar o policial.
Doutor Quaresma era delegado há pouco tempo em Pica-paus, o suficiente para ser respeitado por todos. Era um dos raros casos de autoridades incorruptíveis. Não frequentava as colunas sociais e nem era visto em noitadas. Não media esforços para o cumprimento da lei, custasse a quem custasse. Chamavam-no de Zorro do Sertão. Quando seu Fusion parou em frente à mansão e o delegado de porte robusto e grossos bigodes negros desceu com cara de poucos amigos, os presentes à festa souberam que algo de muito errado acontecia.
Com as informações passadas por Pascoal, Quaresma traçava sua linha de investigação. Tudo levava a crer estarem diante de um assassinato bem calculado. Todos eram suspeitos, até o próprio amigo de infância, embora o delegado não apostasse suas fichas nele. Cardoso sim aparecia como um forte candidato a ter matado o tio, já que, após o recente divórcio de Pantaleão, sem filhos, o sobrinho era o único herdeiro de seu império. A ex-mulher do cirurgião, Dona Zuleide Fortunato, também poderia estar metida na história, mesmo sem ter ido ao aniversário, pela primeira vez desde que a festa tornou-se o evento mais comentado da cidade. Uma jovem loira de curvas bem delineadas e vinte e poucos anos chamada Duda, ex-garota de programa e ex-amante de Pantaleão, completava a lista inicial de possíveis suspeitos. Mas a informação mais importante a ser considerada é que o médico estava muito bem cotado para ser candidato a prefeito nas próximas eleições.
Sem dar explicações, Doutor Quaresma passou pela segurança, atravessou o jardim e entrou no casarão. Passou pelos convidados, mirou seus suspeitos de cima a baixo, cruzou o salão e dirigiu-se ao banheiro, onde o corpo do anfitrião estava. Sua experiência policial o fez observar atentamente o ambiente e perceber que não havia marcas de pés ou sapatos molhados no chão, além das do defunto. A janela basculante estava aberta ao máximo, com uma pequena marca de sangue em uma das extremidades. Na lixeira, dois preservativos, um batom usado, as chaves da porta, papelotes vazios de cocaína e duas embalagens de pirulito, sendo uma azul.
O delegado foi para o salão. Pediu uma pausa à banda. Anunciou a todos que um crime acabara de ocorrer na casa. E convidou Cardoso, Duda e o prefeito Raimundo Carlos Sodré a acompanharem-no até a biblioteca, para alguns esclarecimentos. Antes, porém, havia acionado seus investigadores e ordenado que cercassem a mansão.
(continua...)
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