sábado, 19 de novembro de 2011

Vestidos


Tudo corria às mil maravilhas no namoro do Gilberto e da Paula. Juntos há um mês, tudo era motivo para sorrisos e para quererem estar juntos. Parecia que dessa vez, enfim, tinham encontrado as pessoas certas. Já haviam sido apresentados aos amigos do outro, aos pais e estavam com uma viagem marcada pra ele conhecer a avó dela, numa cidadezinha pequena. A rotina dos dois mudou desde o início do namoro e girava em torno de cinema, teatro, filmes em casa, barzinhos e idas ao clube. O Gilberto estava orgulhoso porque apresentaria a Paula, de quem ele tanto falava, aos colegas da empresa na festa de fim de ano.

A Paula estava um pouco insegura, queria causar uma boa impressão com o pessoal do trabalho do namorado. Demorou dias para escolher uma roupa que considerasse ideal para a ocasião. Revirou o estoque de todas as lojas do centro e passou uma semana indo ao shopping todos os dias, até que se decidiu por um vestido verde, bonito, elegante, nem curto nem justo demais. No dia, ela caprichou na maquiagem e estava pronta pontualmente às nove à espera do Gilberto. Quando ele chegou, do carro mesmo disse que ela estava especialmente linda.

Na festa, o Gilberto fez questão de passar de mesa em mesa apresentando a namorada. Peito inflado de orgulho, exibia sua morena como um troféu – e ela achava isso a coisa mais bonitinha do mundo. Todos foram simpáticos, diziam que estavam ansiosos em conhecê-la porque ele falava muito dela e convidavam os pombinhos a sentarem-se com eles. Foi assim com o pessoal do financeiro, do RH, dos serviços gerais e da gerência. Mas antes de se decidir por onde ficar, Gilberto tomou a Paula pela mão para levá-la à mesa do Afonso, o patrão. Seu Afonso levantou-se para cumprimentar o funcionário e conhecer sua famosa namorada, e junto com ele, a esposa, Sílvia. Enquanto Gilberto e Afonso abraçavam-se, com direito a tapinha nas costas e tudo, Paula esboçou um aceno de mão e um risinho para Sílvia, até que teve a pior visão de sua vida: a mulher do patrão do namorado trajava exatamente o mesmo vestido verde que ela. O mesmo decote, a mesma alça direita com linhas douradas, o mesmo detalhe na perna esquerda. O mesmo vestido que ela custou tanto para encontrar, que ela achou chique, discreto e que valorizava suas pernas. O mesmo vestido que custou quase metade do salário e foi dividido em seis vezes no cartão.

O sorriso da Paula desmoronou. O da Sílvia também, que ficou séria, com olhos arregalados e boca aberta. Paula virou as costas, pôs-se a chorar e correu para a rua. Quando o Gilberto percebeu, ela já estava lá fora, com a maquiagem borradíssima e os olhos inchados e vermelhos. Lá foi ele, enquanto Afonso abraçava Sílvia e a pedia secretamente para tentar manter a postura perante os empregados. A Paula não parou de chorar, não queria conversa e exigiu que o Gilberto a levasse de volta para casa. Ele tentou argumentar, mas ela, aos soluços, foi irredutível. Em meia hora o Afonso alegou um mal estar e também deixou a festa, com a família.

Em frente ao apartamento dela, Paula pediu desculpas a Gilberto por ter estragado a noite dele, mas ele relevou, ainda tentava confortá-la. Por fim, ela disse que não queria mais vê-lo, o namoro não daria mais certo depois da humilhação. Alegou que nunca mais ela conseguiria encontrar com os colegas dele à vontade. Rosto molhado por lágrimas, Paula deixou o carro e entrou em casa. Chorou toda a noite. E nunca mais falou com Gilberto.

Triste, o Gilberto decidiu voltar à festa para ver como tinha ficado o clima. Quando chegou, a banda contratada já tinha começado a tocar e o pessoal já estava dançando animado e bebendo bastante. Foi aí que o Gilberto viu o Jonas, seu melhor amigo na empresa, que chegou atrasado e nem estava sabendo da confusão com a mulher do patrão. Por ironia do destino, Gilberto e o Jonas vestiam a mesma camisa azul. Igualzinha, sem tirar nem por nada. E, ao perceber, o Jonas gritou: “ô meu parceiro, vamos fazer uma dupla sertaneja?”, seguido de uma risada escandalosa. Sem perder tempo, Jonas, espirituoso, pediu à banda para cantarem uma moda juntos.

E não é que eles levaram jeito para a coisa? A galera gostou e eles cantaram a noite inteira. Depois, começaram a fazer pequenas apresentações, ensaiar com músicos profissionais e decidiram deixar a empresa para investir na carreira. Hoje, Jonas e Gilberto é uma das duplas mais famosas da região e o hit “Vestidos iguais” é o mais tocado em todas as rádios, todo mundo sabe a letra na ponta da língua. E a Paula chora toda vez que ouve, coitada.

7 comentários:

Régis André disse...

genial! to rindo pra caraio!

Joyce disse...

Tão dificil encontrar um namorado bacana e a Paula descarta por um vestido? Tonta! Seus textos sempre são leves e gostosos de ler. bjão

Patrícia disse...

Muitooo bom!:)

Cláudia disse...

Uma situação que poderia ter sido contornada com uma gargalhada, uma boa piada, afinal as duas tinham o mesmo gosto. Isso pode acontecer, aliás já aconteceu comigo, mas isso fica pra uma futura história de Diva Latívia.

João disse...

Boa, cara, realmente muito boa

Matheus Espíndola disse...

hahaha! Mulheres...!

Anônimo disse...

Gostei do seu texto.Homens são mais "descolados" nesse assunto.