Era manhã de segunda-feira e Carina havia acabado de chegar ao escritório, sorridente e esbanjando disposição para trabalhar. A advogada acenou para o porteiro, sorriu simpaticamente para a secretária, cumprimentou os colegas, guardou a bolsa preta no armário e ligou o ar-condicionado da sala e o computador. Como de praxe, ela abriu a caixa de e-mails e inesperadamente encontrou uma mensagem recém-enviada pelo André.
Carina e André namoraram por uns meses e terminaram amigos. Vez por outra ainda se falam e já até saíram juntos outras poucas vezes. Há um tempo chegaram a cogitar retomar o relacionamento, mas temiam que os problemas que ruíram o namoro – a imaturidade dele e a falta de tempo dela – os afastasse em definitivo. O André não era de escrever e só mandava e-mails com piadinhas infantis e textos bobos e de gosto duvidoso. Mas aquele foi diferente, a começar pelo impactante e enigmático título “Mais sério do que nunca”.
Carina,
Pensei muito antes de te escrever. A verdade é que cada vez que a gente se fala, você mexe comigo. Eu nunca te esqueci e acho que esse tempo separados me fez ter certeza de algumas coisas. E é sobre elas que eu quero conversar com você. Pessoalmente. Quando puder, me encontre. A qualquer hora, em qualquer lugar. Preciso te ver.
Eu tenho pensado em tudo que distanciou a gente, Carina. Talvez eu tivesse mesmo alguns comportamentos inadequados. E tô disposto a mudar, a ser um cara melhor. Uma pessoa à altura de uma mulher tão especial como você. Já tomei algumas decisões sobre isso. Quero apresentá-las a você e ouvir suas opiniões. Pode ser cedo, antes do seu trabalho. Pode ser tarde da noite, quando você sair do escritório.
O que eu sei é que eu não quero e não vou te perder. Tive a chance de te ter pra mim e não aproveitei. Mas vou fazer o que estiver ao meu alcance pra ter outra oportunidade de construir uma vida a dois com a mulher mais maravilhosa do mundo. Dessa vez, pra sempre. É ao seu lado que eu sou feliz, que eu me sinto completo. Só te peço que você me ouça. Posso ir à sua casa. Ou a gente marca um almoço no shopping. Um passeiozinho até a cachoeira ou aquela comida japonesa que você adora. A prioridade da minha vida é dividir com você, Carina, esses planos e sentimentos guardados aqui comigo.
Eu espero o seu tempo. Quando puder, me liga, me escreva. Pense em mim que eu apareço por perto! Qualquer dia. A qualquer hora.
Ah, menos na quarta à noite, tá? Porque, sabe como é, tem futebol na TV e eu encontro com a galera pra tomar umas, comer petiscos engordurados e gritar uns palavrões, bom pra desestressar. E o campeonato tá cada vez melhor. Pensando bem, na quinta de manhã também não, devo estar meio de ressaca.
Tô no aguardo. Um beijo.
André
3 comentários:
Talvez, tão sério quanto o compromisso futebolístico dele. Ah, os homens... Ah, esse futebol! Coincidência, escrevi sobre a "surdez masculina", algo que costuma acontecer enquanto rola um futebolzinho básico na TV.
Gostei do texto, sugiro que escreva a continuação.
Beijo
Penso que as mulheres deveriam procurar ser mais compreensivas, para que lindas histórias de amor não se perdessem entre uma quarta de futebol e uma manhã de ressaca.
Boa sorte ao André, principalmente se nas próximas quartas-feiras ele torcer para um time alvinegro contra um auriceleste.
VAI, CORINTHIANS!!
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