Por obra do destino, eu nasci no Vale do Rio Doce (na verdade, descobri que essa é a mesorregião agora, pesquisando na internet), em Minas Gerais. Depois, foram anos de mudanças e residências no Campo das Vertentes, na região metropolitana do Rio de Janeiro, região metropolitana de Belo Horizonte (esse eu também não sabia, mas suspeitava), Zona da Mata mineira, litoral Norte do Espírito Santo e Norte de Minas. Em cada canto desses, um povo com sotaque diferente.
Ainda estou me acostumando com o sotaque dos montes-clarenses, que é uma mistura de mineiro com baiano e tem suas peculiaridades. E um episódio recente me chamou a atenção sobre esse assunto. Eu passava perto de uma quadra, onde uns garotos praticavam futsal e outros esperavam na arquibancada sua vez de jogar. A pelada estava boa, parei por alguns instantes para acompanhar a movimentação da partida.
Entre ataques e defesas, divididas e gols, um lance duvidoso. Um rapaz dominou a bola próximo à linha de lado e um adversário reclamou a marcação de um lateral a favor do time dele. O jogador com a bola contestou. O outro foi incisivo:
- A bola saiu, moço!
- Não saiu, moço. Tava em cima da linha.
- Moço, saiu sim. Eu vi.
- Não saiu não, moço. Sério mesmo.
- Moço, claro que saiu, eu tava em frente à bola.
A discussão foi se acalorando. Os outros jogadores intervieram. O pessoal de fora também. Formou-se um aglomerado conflituoso. Os ânimos se exaltaram.
- Saiu sim, moooço.
- Moço, a bola não saiu. Em cima da linha não é fora.
- Eu sei, moço. Mas saiu toda. É lateral sim.
- Moço, não foi. A bola é nossa, segue o jogo.
- Não, moooço. Pra que eu iria inventar isso? É nossa aqui, moço.
- É dos caras, moço.
- Moço, é nossa. Não passou a linha.
- É deles, moooço.
Nisso eu desisti de esperar o veredito coletivo quanto à marcação ou não do lateral e segui meu caminho. De longe, ainda ouvia “moço”, “moço”, “moooço”, “moço”...
Acho que se não chamaram o Arnaldo pra ele decidir sobre o lance, a moçada deve estar lá argumentando até agora. A essa altura, é bem possível que já tenham ter batido o recorde mundial de palavra repetida mais vezes numa mesma discussão.
Um comentário:
Meu irmão, há quase 10 anos aí, já fala "moço" (ou "môôssss", como se pronuncia) com uma fluência fenomenal.
E o Vale do Rio Doce é o que há! É nóis!
(Cara, tirando a região metropolitana do Rio e as Vertentes de Minas, acho que as minhas paradas ao longo da estrada são as mesmas que as suas... heheh)
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