O candidato assumiu ele mesmo as diretrizes da campanha. Resolveu tentar fazer o que pouco se via por aquelas bandas: apresentar propostas, conversar com o povo. Não mandou fazer cavaletes porque pensava que as ruas e praças são locais públicos pertencentes a todos e não seriam placas ou bonecos em tamanho real, que atrapalham a caminhada das pessoas, que fariam com que ele fosse mais bem votado. Só emporcalharia a cidade. Além do mais, ele nem era bonito pra isso.
Não compôs uma musiquinha grudenta e contratou um carro de som com volume alto porque acreditava que isso era falta de respeito, intromissão nos lares e empresas das pessoas. E nos ouvidos também. Não queria ser eleito à custa da poluição sonora.
Nem santinhos. Eles sujam as ruas e servem mais para o pessoal desenhar chifrinhos, óculos e dentes podres do que para popularizar um candidato. Quando enchem as caixas de correios das casas então, nem se fala. Pior do que isso, só quando os afixam nos limpadores de para-brisas dos carros. Ele sabia que isso dá raiva, é chato.
O candidato queria apresentar propostas. Andou pelas cidades, conversou com o povo. Ele se posicionou sem medo, e sem que ninguém o perguntasse, sobre o que pensava para os rumos da economia, da saúde e da educação, da polícia, casamento entre pessoas do mesmo sexo, legalização das drogas e do aborto, redução da maioridade penal e pena de morte. Quando os jornalistas o perguntaram, aí que ele falou mesmo, com propriedade.
Não pediu voto às pessoas que seguiam a mesma religião que ele. Evitou unir os assuntos, até. Também optou por não ficar se vangloriando de boas práticas de ex-gestores públicos do seu partido, assim como preferiu não atacar quem estava do outro lado. Chegou a reconhecer pontos positivos em diversos atos da turma do grupo político diferente do dele. E criticou outros, tudo argumentado.
Andou, apresentou as propostas, conversou com o povo.
Saiu o resultado, não foi eleito. Chegou nem perto disso, aliás, coitado.